São Paulo, terça-feira, 18 de junho de 1996
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ENCRUZILHADA RUSSA

O virtual empate no primeiro turno das eleições para a Presidência da Federação Russa, a segunda maior potência nuclear do planeta, revela uma dupla surpresa. O difícil é avaliar qual a maior das duas.
Surpreende que cerca de um terço do eleitorado, ao votar pelo candidato neocomunista, ainda demonstre saudades do antigo regime, depois das aberrações e insatisfações geradas por 70 anos de domínio do Partido Comunista da URSS.
Como surpreende, igualmente, que outro terço dê o seu voto ao atual presidente, Boris Ieltsin, uma vez que foi sob a sua gestão que se fizeram sentir as dores da transição rápida do comunismo para o capitalismo.
Podem-se aventar dezenas de interpretações para o fenômeno, mas o fato -este inconteste- é que a população russa hoje está praticamente cindida em duas partes que fazem leituras opostas da situação que se lhes apresenta.
É de certa forma compreensível que os russos estejam tão divididos. Ninguém duvidava de que a transição para uma economia de mercado seria um processo complexo, traumático mesmo. Muitos dos que acreditavam que passariam, da noite para o dia, a gozar dos "luxos" do Ocidente encontraram, em vez dele, o desemprego aliado a um processo de desmanche dos sistemas de proteção social que outrora existiram no país. Para essa parcela da sociedade, é compreensível uma certa nostalgia do "ancien régime".
Ao mesmo tempo, o novo sistema, ainda em construção, com boa dose de ajuda do Ocidente, consegue suscitar o apoio de outro terço, seja por considerar a transição um caminho sem volta, seja por pertencer à nova elite, ou simplesmente pelo medo da volta ao passado.
O fato é que em julho os russos terão de escolher entre o que aí está e uma proposta apresentada como mais atenta aos problemas sociais do país. Cabe a eles decidir. O que importa é que seja dentro de um processo democrático.

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