São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Barreira alfandegária ambiental

WERNER EUGENIO ZULAUF

Em poucas semanas entram em vigor os novos mecanismos de controle ambiental derivados, não de códigos de meio ambiente, mas de acordos comerciais internacionais: os certificados de série ISO 14.000.
Trata-se de um componente novo no comércio exterior, inusitado e presumivelmente eficaz, agindo no contexto da globalização da economia. A participação no grande mercado mundial só será possível para os detentores desses certificados.
O produtor deverá demonstrar que seu produto é fabricado com tecnologias limpas e que os eventuais resíduos (sólidos, líquidos e gasosos) são tratados adequadamente antes de serem dispostos ou reutilizados. Mas não é só isso. Deverá demonstrar que a montante e a jusante da fábrica, respectivamente, a cadeia produtiva, o consumo e o descarte dos bens e serviços são igualmente brandos do ponto de vista ambiental.
O procedimento, que está em fase final de regulamentação, deverá produzir, pelo menos, dois efeitos impactantes: de um lado, vai assegurar uma notável redução dos efeitos ambientais adversos decorrentes das atividades dos setores econômicos que competem no mercado globalizado; por outro lado, impõe aos produtores o ônus da agregação dos custos correspondentes a esses encargos ambientais.
O segundo efeito é uma nova forma, sutil, de barreira alfandegária, imposta pelo poder econômico do Primeiro Mundo -cujos empresários são obrigados a arcar com os custos da produção limpa pelas leis dos seus países- aos produtores do resto do mundo que queiram competir no seu vasto e apetitoso mercado.
Os certificados ISO 14.000 complementam, com algumas e inegáveis vantagens, as leis frouxas e mal fiscalizadas das economias emergentes, o que, no Brasil, é particularmente grave.
A presença desses novos mecanismos deve ser aplaudida, mas é importante que não se abandone o aperfeiçoamento da ação pública de gestão, educação e controle ambientais, assim como o planejamento e a pesquisa.

Werner E. Zulauf, 59, engenheiro civil e sanitarista, é secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo e presidente nacional da Anamma (Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente).

Texto Anterior: Aprovado aborto de feto de oito meses
Próximo Texto: Prefeitura diz que Justiça a torna impotente
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.