São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 1996
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O futuro do câmbio

LUÍS NASSIF

O seminário "Perspectivas da Política Cambial", transcorrido ontem em São Paulo, trouxe elementos relevantes para uma melhor definição sobre as estratégias a serem tomadas pelas empresas em face da globalização da economia.
Conforme informou o ex-ministro Marcílio Marques Moreira, atualmente consultor da Merrill Lynch, há um movimento sem paralelo no ingresso de capitais externos no país.
Por outro lado -como salientou o economista Antonio Barros de Castro-, há ampla perplexidade acerca de dois pontos fundamentais para os investimentos. Os empresários não sabem para onde caminham seus setores e não estão seguros de que a economia vá efetivamente deslanchar.
Foi essa imprevisibilidade que paralisou os investimentos na Alemanha e na Suécia, lembra ele. Além disso, há o empobrecimento do instrumental de política econômica, que acabou reduzido às âncoras cambial e monetária.
Ele recorda o caso recente da estabilização argentina, que, fundada exclusivamente na âncora cambial, retirou do governo o controle sobre a política econômica. Na primeira freada na economia, produziu-se uma recessão de 4,5% e, até agora, não se conseguiu que a economia saísse do brejo.
Por outro lado, Castro reconhece que o movimento de capitais externos é expressivo e pode conferir à economia uma nova dinâmica.
'Big Bang'
Principal estrela do seminário, o diretor da área externa do Banco Central, Gustavo Franco, obviamente tem visão otimista do processo.
Considera que a abertura se iniciou em 1990, mas caminhava de maneira lenta. Com o chamado "big bang" do segundo semestre de 1994, mistura explosiva de valorização do câmbio e abertura aguda de importações, Franco defende que se alterou a dinâmica na economia. E que, a médio prazo, isso produzirá a chamada "destruição criativa", com setores desaparecendo para que novos setores possam nascer.
Cautelas
Em que pese todas as críticas que formulou contra a apreciação do câmbio, na saída do Plano Real, a coluna tem defendido a tese de que a abertura aguda, mesmo com toda a dose de sacrifício desnecessário, acelerou o processo de reestruturação interno e, a médio prazo, tem forte componente de dinamismo.
A questão é: como sobreviver na próxima quadra? No quadro atual, ousar a busca de novos caminhos traz uma dose de risco: pode-se encontrar a saída ou apressar o fim. Mas o imobilismo não tem saída: se ficar parado, será atropelado pelos fatos.
Daí a importância de as empresas, primeiro, buscarem ter toda a clareza possível sobre o futuro de seu setor. Depois, se empenharem em programas de qualidade e em mudanças na política de recursos humanos, visando ampliar a competitividade.
Finalmente, elas devem montar sistemas modernos de gestão e controle, para se preparar para futuros aportes de capital, fusões ou até a venda, se não houver alternativa.
Securitização
A securitização das dívidas agrícolas pelo Banco do Brasil já atingiu a marca de 110 mil mutuários com negócio fechado, dentre os 174 mil que optaram até 29 de fevereiro.
A previsão de Ricardo Conceição, diretor da carteira agrícola, é chegar a 150 mil. Há mais duas semanas para atingir a meta.
Até agora, a securitização do BB correspondeu a US$ 2,5 bilhões. Seu limite é de US$ 4,9 bilhões ou o que se conseguir até 30 de junho.

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