São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Como impressionar em entrevista para emprego

BILL GATES

Pergunta - O que uma pessoa pode fazer para lhe causar boa impressão numa entrevista para emprego? Jim Kerr (jak7@opsirml.em.cdc.gov)
Resposta - Não costumo entrevistar muitos candidatos a empregos. Quando o faço, minha abordagem é encontrar um assunto relacionado ao trabalho que o candidato ou a candidata diz ser de profundo interesse para ele ou ela.
Depois, tento avaliar se a pessoa já se esforçou muito para aprender sobre aquele assunto e pensá-lo de maneiras novas.
Quero saber se o candidato já formou um modelo completo de como funciona uma empresa ou um projeto.
Como ele se relaciona com o assunto? Será que costuma mergulhar a fundo?
Falar sobre um assunto que é de profundo interesse da pessoa me permite explorar até que ponto ela é capaz de se envolver com algum projeto que nós possivelmente lhe entregássemos.
O conselho geral que posso dar aos candidatos a empregos é que descubram o máximo que puderem de antemão sobre a empresa na qual querem trabalhar.
Talvez a maneira mais eficaz de fazê-lo seja estudar as páginas da empresa na World Wide Web, a parte gráfica da Internet.
Nem todas as empresas possuem um endereço na Web, mas a cada dia que passa aumenta o número das que têm.
Num Web site você não apenas fica sabendo quais são as oportunidades de trabalho na empresa, mas também quais são as necessidades e os desafios que ela enfrenta.
Na verdade, você muitas vezes aprende mais sobre uma empresa na Web do que aprenderia passando um dia em sua sede.
Quando um candidato a um emprego demonstra ter profundo conhecimento de minha empresa, isso me causa muito boa impressão -e acho que a mesma coisa se aplica a qualquer outra empresa que estiver pensando em contratar.

Pergunta - O que você acha mais importante para seu sucesso, inteligência pura ou trabalho duro? Matthew Nagowski (NagM@msn.com)
Resposta - Trabalho duro, sem dúvida alguma. Mas não apenas meu próprio trabalho. O que realmente importa é o trabalho duro das pessoas que vêm trabalhar comigo.
A inteligência pura tem um peso maior em pequenas competições, tipo resolver um problema matemático.
Mas, em um período de vários anos, quando você está numa empresa trabalhando em projetos complexos e trabalhando com clientes, o sucesso decorre muito mais da dedicação e da persistência das pessoas do que de sua inteligência.
Não estou desprezando a importância da inteligência. Eu a valorizo muito, e ela constitui ingrediente essencial de muitos tipos de sucesso.
Mas, mesmo nos casos em que a inteligência parece ser a razão de um sucesso, o trabalho provavelmente também tem muito a ver com isso.
Thomas Edison disse: "O gênio é 1% inspiração e 99% transpiração". Acredito nisso.

Pergunta - Criei um software que talvez possa ser patenteado. Naturalmente, espero lucrar com minha idéia. Qual é a melhor maneira de um inventor de software vender seu produto ou apresentá-lo a uma companhia respeitada de software para ser desenvolvido mais a fundo e colocado no mercado? Gerald Cohen, Birmingham, Michigan (entrefilet@aol.com)
Resposta - Se a idéia realmente é patenteável, você provavelmente deveria patenteá-la para que possa mostrá-la às pessoas sem precisar temer que seja roubada. Obter uma patente não é barato, mas representa uma proteção que pode ser de enorme valor.
A Microsoft às vezes compra tecnologias patenteadas.
De vez em quando, chegamos a comprar uma companhia inteira, quando ela é proprietária de um produto ou tecnologia que acreditamos possuir valor estratégico.
Recebemos de nossos clientes e consumidores um número enorme de sugestões -que abrangem tudo, desde melhoras que podem ser feitas em diferentes aspectos dos programas até novos produtos.
A Microsoft presta muita atenção a essas idéias que nos são oferecidas, porque elas nos ajudam a entender o que os consumidores querem. Ficamos gratos pelas sugestões.
Quando alguém tem uma idéia não patenteada com a qual quer lucrar, empresas como a Microsoft e a IBM não podem nem sequer olhá-la ou avaliá-la.
Isso porque talvez já estejamos trabalhando em cima da mesma idéia ou talvez estejamos prestes a produzir algo semelhante por nossa própria conta. Assim, dizemos às pessoas que nos abordam com idéias próprias que querem proteger que não há nada que possamos fazer para cooperar com elas.
Infelizmente, acho que quase todas ou todas as grandes companhias de software adotam a mesma política.

Pergunta - Você tem memória fotográfica? Yat Hing Chan, Austrália (cyh@tpgi.com.au)
Resposta - Nunca conheci ninguém que tivesse memória fotográfica, no sentido literal do termo.
A existência de pessoas capazes de lembrar informações detalhadas pelas quais apenas passaram os olhos é bem documentada. Mas eu, com certeza, não sou uma delas.
Apesar disso, tenho boa memória quando se trata de informações com as quais estive profundamente envolvido ou com as quais me importei.
Consigo lembrar de todos os lances de muitas partidas de xadrez que joguei.
Ainda me lembro de todas as minhas falas numa peça na qual participei como ator no ginásio, "Black Comedy" (Comédia Negra). Eu tinha tanto medo de esquecer minhas falas que as "imprimi" na minha cabeça com fogo em brasa.
Também tenho memória muito boa para dados financeiros. Consigo visualizar o código-fonte da versão do "Basic" que escrevi para o primeiro microcomputador, ainda em 1975.
Foi o código de programação que lançou a Microsoft, por isso talvez não seja tão surpreendente que eu ainda consiga visualizar cada detalhe da primeira página, da segunda página, da terceira -como se estivessem na minha frente.

Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644.

E-mail askbill@microsoft.com

Texto Anterior: Anônimos viram estrela na Internet
Próximo Texto: Programa cria páginas na Web
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.