São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 1996
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Gratchev é odiado por comunistas e democratas

HELEN WOMACK
DO "THE INDEPENDENT", EM MOSCOU

Atingido por acusações de corrupção e responsável, em grande medida, pelo fracasso militar russo na Tchetchênia, o general Pavel Gratchev, cujo sobrenome significa "gralha" em russo, é odiado tanto pelos jovens de tendência democrática quanto por velhos comunistas e militares.
Ieltsin poderia tê-lo demitido, mas preferiu adiar seu sacrifício para o momento em que exerceria o impacto político máximo. Esse momento chegou ontem.
A TV russa sugeriu que ele pode agora ser enviado a Bruxelas como representante da Rússia na Otan, onde é conhecido por haver se oposto aos ataques aéreos na Bósnia e à expansão da aliança ocidental em direção ao leste. Na própria Rússia Gratchev é visto como um desastrado, na melhor das hipóteses, ou, na pior, como açougueiro.
O general Gratchev era tido por seus colegas no Exército como uma figura medíocre, cuja ascensão ao cargo de primeiro ministro da Defesa da Rússia democrática, em 1992, foi recebida com surpresa generalizada.
"Ele era um dos rapazes que andavam por aí. Costumávamos mandá-lo sair para buscar vodca para nós", disse um oficial que serviu com ele no Afeganistão.
O ministro da Defesa passou a ser odiado após uma onda de revelações que trouxeram à tona abusos financeiros ocorridos quando o antigo Exército soviético se retirou da Alemanha, seguida pelo assassinato de um dos jornalistas que trouxe o escândalo a público.
O jornalista Dimitri Kholodov, do jornal "Moskovski Komsomolets", trouxe à tona tantas informações sórdidas sobre o enriquecimento de oficiais à custa da venda de material do Exército que motivou a instauração de uma comissão parlamentar de inquérito.
O general Gratchev foi acusado de aceitar uma limusine Mercedes comprada com fundos que deveriam ter sido gastos na construção de casas para os soldados russos que retornaram do Afeganistão.
Indignados, os russos o apelidaram de ministro Pasha (diminutivo de Pavel) Mercedes.
Mas o inquérito parlamentar acabou não acontecendo. Kholodov, que deveria ser uma das testemunhas chaves no caso, foi atraído até uma estação ferroviária por um telefonema anônimo lhe prometendo uma mala de documentos reveladores.
A mala continha uma bomba, que matou o jovem repórter. O general Gratchev negou qualquer envolvimento no assassinato.
Milhares de russos revoltados acompanharam o enterro, e esperava-se que Ieltsin demitisse Gratchev, mas isso não ocorreu.
Tudo indica que Gratchev teria sobrevivido no cargo devido a sua fidelidade canina a Ieltsin.
Gratchev fez parte do grupo que, em dezembro de 1994, convenceu Ieltsin que o recurso à força era a única maneira de acabar com a rebelião separatista na Tchetchênia.
A guerra contra os rebeldes já dura 18 meses, 30 mil civis morreram, e a infra-estrutura da região foi em grande parte destruída.

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