São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 1996
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Previsões econômicas

ANTONIO DELFIM NETTO

As dificuldades de previsão que assolam a economia são dramáticas.
Ainda esta semana, um membro da equipe econômica, que por sinal conhece o problema estatístico envolvido, afirmou com a maior tranquilidade que "um consenso dos melhores consultores privados" estabelece como provável um superávit comercial de US$ 2 bilhões, resultante de uma exportação de US$ 50,0 bilhões (um aumento de 7,5% em 1996) e de uma importação de US$ 48,0 bilhões (uma redução de 3,3% em 1996).
Seria ridículo discutir os números em si, porque provavelmente eles são uma mera extrapolação (ou talvez o resultado de um modelo mais complexo, mas não mais "certo") obviamente sujeita a erros importantes.
O problema é que os erros de previsão das exportações e das importações transferem-se, magnificados, para os erros de previsão do saldo comercial.
Suponhamos, por exemplo, que, num nível de probabilidade de 5%, o erro de previsão das exportações (para mais ou para menos) seja de 3%. Logo, as exportações se situarão entre US$ 51,5 bilhões e US$ 48,5 bilhões.
Suponhamos, também, que o erro de previsão das importações, no mesmo nível de probabilidade, seja de 4% (mais incerta devido às flutuações recentes).
Isso significa que a previsão naquele nível de certeza é de uma importação entre US$ 50,0 (US$ 48,0 mais 4%) e US$ 46,1 (US$ 48,0 menos 4%).
Simplificando um pouco as coisas, temos que naquele nível de probabilidade o saldo comercial pode variar entre um superávit de US$ 5,4 bilhões (a exportação no limite superior de US$ 51,5 bilhões e a importação no limite inferior de US$ 46,1 bilhões) e um déficit de US$ 1,4 bilhão (a exportação no limite inferior de US$ 48,5 bilhões e as importações no limite superior de US$ 49,9 bilhões).
Com erros de medida de 3% nas exportações e de 4% nas importações, o erro medida do saldo é da ordem de 170%!
Quem gosta de coisa mais séria não deve perder o "Boletim Conjuntural" nº 33 (abril/96) do Ipea, com uma introdução ainda mais judiciosa do que as costumeiras, além de interessante nota de Fabio Giambiagi a respeito dos efeitos perversos e devastadores sobre o juro real produzidos pela atual cunha fiscal.
Ele traz, também, suculento artigo de Ajax Moreira e Antonio Fiorencio sobre um modelo de previsão do saldo da balança comercial. Nele há muito o que aprender.
Aos poucos se reconhece que a taxa real relevante é um preço relativo determinado pelo quociente entre preços de bens transacionais e bens não-transacionáveis e que o melhor aproximador destes últimos é um índice de custo de vida.
Uma boa leitura, principalmente para as autoridades fiscais e monetárias, que insistem em dividir a taxa nominal de câmbio pelo IPA-DI, que por sua vez é produto da taxa de câmbio...

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