São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 1996
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Ieltsin demite três supostos conspiradores

Prisão de assessores gera conflito

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente da Rússia, Boris Ieltsin, demitiu ontem seus assessores apontados como responsáveis por uma suposta tentativa de golpe palaciano.
Alexander Korjakov, chefe da guarda do presidente, Mikhail Barsukov, chefe do Serviço Federal de Informação (órgão sucessor da KGB), e o vice-premiê Oleg Soskovets deixaram o cargo na manhã de ontem, em uma ofensiva de Ieltsin contra os "linhas-duras" do Kremlin, a sede do governo.
Korjakov e Barsukov foram os responsáveis, anteontem, pela prisão de Serguei Lisovski, organizador dos showmícios de Ieltsin, e Arkadi Ievstafiev, assessor da campanha. Eles foram libertados horas depois de serem detidos sob a acusação de se apossarem de fundos de campanha. Lisovski disse que as provas eram forjadas.
A prisão foi noticiada pela TV e desencadeou uma onda de protestos de membros do governo, que denunciaram um golpe.
O general Alexander Lebed, novo secretário do Conselho de Segurança, ficou até as 4h de ontem (21h de anteontem, em Brasília) tentando contornar o episódio e disse que não toleraria manobras para desestabilizar o governo.
Lebed se tornou um dos homens públicos mais importantes da Rússia nesta semana, ao conseguir a terceira maior votação no primeiro turno das eleições presidenciais, com quase 15% dos votos.
Para conseguir o apoio dele, Ieltsin nomeou o general reformado Lebed para o governo. O segundo turno ocorre em 3 de julho, como foi definido oficialmente ontem.
Segundo a NTV, as prisões eram parte de um golpe para anular o segundo turno das eleições. Para Anatoli Tchubais, da facção "democrática" do governo e responsável pela campanha eleitoral de Ieltsin, a intenção dos supostos golpistas era manter um "governo fantoche" coordenado por Ieltsin.
Semanas antes do primeiro turno, Korjavov declarou que Ieltsin planejava cancelar as eleições.
A declaração causou forte repercussão e foi negada prontamente por Ieltsin, que proibiu o chefe de sua segurança de voltar a opinar. Mesmo assim, Korjakov continuou sendo um dos assessores mais próximos do presidente.
Após a demissão, Tchubais disse que o suposto golpe fora definitivamente abortado, mas que os funcionários acusados não seriam presos porque não há provas de que transgrediram a lei. "Não haverá 'putsch' na Rússia. Haverá eleições no dia 3 de julho."
Korjakov nega a tentativa de golpe e disse que sua demissão foi uma manobra de Tchubais para ganhar espaço junto a Ieltsin. "Ele está mentindo. Tchubais é a escória da Rússia", disse Korjakov.
"Eu sustentei o presidente e vou continuar a fazê-lo. Não deixei a equipe do presidente e vou fazer tudo para assegurar a vitória de Boris Ieltsin na eleição."

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