São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 1996
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OS DONOS DA PRIVATIZAÇÃO

A demora do governo em definir o sucessor de Elena Landau, diretora de privatização do BNDES, está abrindo espaço para o ressurgimento de uma disputa política já conhecida. O PFL gostaria de assumir a liderança do processo de privatizações, enquanto lema e também de fato. A desestatização é naturalmente uma bandeira do liberalismo e, o que não parece ser menos importante, trata-se de um processo que confere grande influência a quem o conduz e envolve bilhões de reais.
A insatisfação com o ritmo das privatizações, porém, não é só resultado de contendas partidárias. Assim como no caso das emendas constitucionais, o andamento da desestatização descontenta os defensores mais atentos da reforma do Estado. Causa mesmo alguma apreensão.
Ainda assim, a eventual criação de um ministério para a privatização seria uma solução bastante duvidosa. Implicaria nova burocracia, novos cargos e gastos adicionais. O deslocamento de atribuições e reorganização da equipe poderia mesmo retardar a venda das estatais.
É preciso reconhecer, ademais, que as transferências de grandes empresas ao setor privado são processos complexos e necessariamente demorados. Estudo da London School of Economics constatou, por exemplo, que entre o anúncio de cada venda e o efetivo leilão das ações em Bolsa, as privatizações promovidas por Margaret Thatcher na Grã-Bretanha levaram em média quatro anos. Passaram-se 16 anos, da posse da primeira-ministra em 1979, até 1995 para que o Estado britânico vendesse dois terços de suas empresas.
Tais considerações não devem servir de pretexto para que os que se aferram a conceitos ultrapassados e não compreendem a importância e a inevitabilidade da redução das atividades empresariais do Estado.
O atual presidente do BNDES parece sinceramente comprometido com as privatizações. Que as contendas partidárias e disputas menores sirvam de alerta, e o governo ponha maior energia e agilidade na já tardia desestatização brasileira.

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