São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 1996
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Excesso de cautela

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Reclamar dos juros altos é coisa de empresário chorão, certo? Errado, mostra o relatório semestral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), um clubão que reúne hoje os 27 países em tese mais industrializados.
Digo em tese porque o México faz parte e, o Brasil, não, embora sua potência industrial seja, claramente, superior à mexicana.
Os técnicos da OCDE fazem parte da tecnoburocracia internacional e não do empresariado, o que não os impediu de defender novas reduções das taxas de juros nos países industrializados, particularmente na Europa. Seria para compensar os efeitos negativos sobre o emprego e a atividade econômica dos programas, hoje generalizados, de ajuste dos gastos públicos.
Os quadros estatísticos que acompanham o relatório justificam plenamente o reclamo pela baixa dos juros. A inflação, tomando-se apenas os países do G-7, os sete mais ricos, fica este ano em ridículo 1,7%, na média, porcentagem inferior aos já magros 2% do ano passado.
A atividade econômica nesses sete países continua anêmica. Cresce, este ano, pela previsão da OCDE, apenas 1,9%, na média, patamar exatamente idêntico ao de 1995.
Trocando em miúdos, não parece haver a mais leve perspectiva de um aquecimento econômico forte o suficiente para desatar pressões inflacionárias. Nem mesmo nos Estados Unidos, país para o qual a OCDE imagina uma inflação de 2,1% este ano e um crescimento de apenas 2,3%.
Bem feitas as contas, a única coisa que de fato cresce significativamente é o desemprego no mundo rico. Para o G-7, passa de 6,8% da força de trabalho, em 1995, para 7% em 96. Para o conjunto dos 27 da OCDE, sobe algo menos (de 7,6% para 7,7%).
É mais uma cutucada na paranóia antiinflacionária que faz os governantes do mundo rico adotarem políticas muito mais cautelosas do que o necessário.

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