São Paulo, sábado, 22 de junho de 1996
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Salto do nada para muito

YEDA CRUSIUS

O Brasil sempre surpreende -e talvez tanto as estimativas cautelosas oficiais quanto os críticos do real possam ser surpreendidos pelos fatos. Porém se impõe uma questão imediatamente seguinte, que é saber como aproveitar essas condições potenciais sem sacrificar a baixa taxa de inflação tão duramente conquistada e que hoje, anualizada, é de pouco mais de 11%. Os fatores geradores de inflação estão sob controle, isso é certo. Do outro lado, os indicadores de nível de atividade domésticos e intenção de investimentos produtivos principalmente externos de maio apontam para o retorno seguro do crescimento da renda nacional, e acima do esperado no início do ano.
A política econômica do governo federal tem sido autorizada pelos fatos a relaxar os freios fortíssimos impostos no campo do crédito em 1995 para conter o consumo, ainda sob a crise gerada a partir do México. As taxas de juros vêm caindo, com tendência de continuada queda para todo o ano.
As restrições sobre o crédito têm sido flexibilizadas tanto quanto ao volume quanto à ampliação de prazos: consórcios de bens de consumo durável; securitização de dívidas gigantescas, principalmente para setores-chave e para os pequenos e médios devedores, novas linhas de crédito -essas as condições para o retorno das atividades freadas no ano passado. Alcançar 6% requer, entretanto, que os atores privados do mercado de crédito -bancos- façam a sua parte. Como a reestruturação nesse setor segue avançada, é provável que também voltem a fazer crédito.
A renda agrícola deverá crescer ao ritmo do aumento dos preços das commodities, principalmente os grãos, compensando a queda de produção deste ano em relação à grande safra de 1995 -a qual, pela baixa dos preços internacionais, trouxe como saldo uma queda de renda agrícola brasileira. Renda agrícola multiplica-se em massa de consumo. Se a redução dos impostos sobre máquinas, exportação e cesta básica puder ser implementada ainda este ano, então o efeito multiplicador será acima das estimativas que respeitam o atual quadro de restrições.
As exportações neste ano, ao contrário do que se esperava em 1995, estão crescendo bem mais do que 6%. Com o lançamento do programa de financiamento às exportações de R$ 1 bilhão neste ano, esse será um setor propulsor de todos os seus reconhecidos multiplicadores -e que são, ao final, criação de renda e de consumo.
Da parte do governo, os programas vão sendo implementados, como a abertura de linhas de financiamento para micros e pequenas empresas por meio do BNDES e seus operadores. O Ministério do Planejamento intensifica o programa de financiamento para habitação popular e saneamento -sem intermediários que faziam o custo desses setores e sua ineficácia gigantescos. O Ministério da Educação colhe os resultados da descentralização dos gastos ao nível das escolas, melhoria na formação e apoio à renda dos professores, merenda escolar, livro didático. Nesses campos, altamente multiplicadores de emprego e renda, fazer o que se faz é saltar do nada para muito -e, nesse caso, o muito é pelo menos 6%.

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