São Paulo, sábado, 22 de junho de 1996
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O papel do setor privado

JOÃO PAULO DOS REIS VELLOSO

É possível que no final do ano o crescimento esteja na ordem de 6% ao ano, dependendo de uma série de fatores.
Mas isso não nos parece a questão relevante. O essencial, para o Brasil, não é crescer rapidamente por alguns meses. Mas, sim, criar as condições para um novo ciclo de crescimento sustentado, sem abrir mão da estabilização. O novo ciclo não acontecerá sem a empresa privada sair das atuais posições defensivas para estratégias positivas, que levem à retomada dos investimentos. Essa mudança depende de pelo menos três coisas.
A primeira é que o setor privado adquira a percepção de que o governo saiu da postura de aparente desinteresse em face do futuro da estrutura produtiva interna (hoje submetida a um processo de difíceis ajustes) e assumiu posição explícita de apoio, sem paternalismos.
A segunda coisa é que seja superada a atual armadilha do "ciclo de baixo crescimento". Não há necessidade, para isso, de maxidesvalorização ou mudanças bruscas de política monetária. Dentro dos regimes já definidos para a taxa de juros e a taxa de câmbio, é possível realizar flexibilizações que permitam mais espaço para crescer, sem exacerbar a inflação.
A terceira consiste em o governo assumir posição ativa de impulsionar o novo ciclo de crescimento, por meio de parcerias com o setor privado, para realizar estratégias conjuntas destinadas a desenvolver certas áreas estratégicas, como os complexos de informática/eletrônica e de telecomunicações (que incluem as tecnologias genéricas do novo paradigma industrial), ou apoiar setores mais afetados pela competição das importações, como têxteis e autopeças.
Essa linha de ação não significa retornar a políticas industriais ultrapassadas, mas dispor de visões estratégicas de futuro para competir em igualdade de condições com o competidor externo. Particularmente importante, nesse sentido -e o governo parece já ter essa percepção-, é acionar um verdadeiro projeto de exportação, que abra horizontes para problemas como crescimento e emprego.

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