São Paulo, sábado, 22 de junho de 1996
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OCDE DE OLHO

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico divulgou anteontem seu informe semestral. O Brasil recebe tratamento detalhado. Há dois pontos a destacar.
Primeiro, o país se firma como um vetor fundamental dos destinos da América Latina. Segundo, a economia brasileira crescerá pouco, a inflação e os juros serão ainda altos, o ajuste fiscal é lento e, apesar das reservas cambiais elevadas, a demora na correção do Estado traz o risco de uma perigosa fuga de capitais.
O governo também contribui para uma percepção contraditória da economia. Combate a "fracassomania", ressalta os sucessos no combate à inflação, insiste em que é possível estabilizar e crescer. Mas, segundo dados do BC sobre a evolução da dívida pública, a involução é clara, justamente num quesito (a saúde das contas públicas) que os organismos internacionais consideram crucial.
A dívida mobiliária (títulos) do governo federal deu um salto de R$ 13,309 bilhões de abril para maio -de R$ 138,005 bilhões para R$ 151,314 bilhões. É o maior número desde janeiro de 1994 e corresponde a um aumento de 9,64% em apenas um mês. O déficit público aumentou de R$ 8,247 bilhões em março para R$ 13,875 bilhões em abril.
São números especialmente preocupantes porque o governo vinha se empenhando em divulgar a justificativa de que alguns dos fatores de desequilíbrio eram temporários. Talvez seja verdade (por exemplo, no que se refere ao peso dos salários do funcionalismo ativo e inativo no Orçamento). O problema é que outros desequilíbrios começam a se manifestar, sem sinais claros de que sejam temporários ou facilmente reversíveis. É o caso da assistência aos bancos e do socorro a Estados e municípios cujos custos continuam surpreendendo.
O mundo está atento à evolução das contas públicas brasileiras, e os mercados domésticos também. Resta saber quando o governo dará sinais convincentes de que também está de olhos abertos.

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