São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 1996
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O Brasil que não morreu

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Está enganado o ministro Sérgio Motta ao dizer, sobre a morte de PC Farias: "Esse foi um Brasil que todos nós queremos esquecer".
Eu não quero, não. Nem acho que devemos.
Primeiro, porque foi um momento profundamente eloquente da mentalidade das chamadas elites brasileiras. O momento em que armaram uma tremenda empulhação para vender ao eleitorado um mero vigarista como se fosse um estadista.
Nem sequer o fizeram por amor a Fernando Collor. No fundo, desprezavam-no, por "nouveau riche" e arrivista. Mas era a única alternativa disponível, no supermercado eleitoral, para derrotar o que então se chamava de fantasma "Brizula" (Brizola e Lula, os dois principais adversários de Collor na campanha de 1989).
Dessa empulhação, participou alegremente grande parte da mídia. Com a única exceção desta Folha, o restante da chamada grande imprensa "colloriu".
Que o tal de povo se enganasse, é lamentável, mas dá para entender. Carente de informações, comprou gato por lebre. Mas as elites e a mídia sabiam perfeitamente com quem estavam lidando e preferiram fechar os olhos e empurrar o país para uma aventura.
PC, aliás, no único contato pessoal que tivemos, no final de 1992, contou que, durante a campanha, havia uma verdadeira romaria de empresários a seu escritório, levando recursos, "cash", em cheques, em dólares, até em barras de ouro.
Entra aí o segundo motivo pelo qual o país não deveria esquecer. Puniu-se (pouco ou muito, já não vem ao caso) apenas um dos lados do balcão, o próprio PC, o único simpático, entre os inúmeros vilões dessa história.
O outro lado, o dos que compraram facilidades no futuro governo com um pote de ouro, esse continua aí, livre, leve e solto. O Brasil da empulhação nem nasceu nem morre com PC Farias.

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