São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 1996
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Greve geral (1)

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Muita coisa se falou da greve geral do dia 21. Que foi um fracasso. Que o governo venceu. Que houve um pouco de cada coisa. E até que seria um movimento inútil.
Passados alguns dias, talvez seja correto dizer que a greve geral (que não foi geral) tenha sido muito útil. Como a semana começa morna em Brasília (com presidente e ministros no exterior), esta coluna fará algumas reflexões, a começar de hoje, sobre o significado da greve do dia 21.
Em primeiro lugar, a greve geral foi útil exatamente por não ter sido geral. Conheceu-se um pouco o tamanho e a cara da população que está descontente com o governo FHC.
Isso ocorreu porque a greve foi, apesar dos seus cinco pontos reivindicatórios genéricos, uma greve contra o governo FHC. E é sempre bom para um país e para seu governo saberem quem está a favor e quem está contra -e o que os que estão contra se dispõem a fazer além de dizer que são contra.
Os números, evidentemente, são controversos. Para as centrais sindicais, 12 milhões aderiram à greve. Governo e empresários jamais vão divulgar números conclusivos. Só vão puxar para baixo os tais 12 milhões. A todo-poderosa Fiesp arriscou dizer que 20% dos trabalhadores da indústria paulista aderiram.
Ora, se São Paulo é o Estado mais industrializado do país, então a paralisação não foi café pequeno. Afinal, pararam 20% dos trabalhadores da indústria num momento em que o desemprego ameaça de forma avassaladora todos os postos de trabalho.
Cabe aqui, inclusive, uma reflexão sobre o que significa a expressão e o movimento "greve geral".
Tomada pelo seu valor semântico mais ortodoxo, a expressão permite concluir que a greve fracassou. Só que, por essa lógica seca, também é correto afirmar que o planeta Terra nunca teve uma greve geral. Sim, porque uma greve geral que tenha pelo menos um fura-greve não é geral.
Amanhã tem mais greve geral.

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