São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 1996 |
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Onde estamos?
LUIZ CAVERSAN Rio de Janeiro - Depois de tomar conhecimento dos números do relatório da ONU sobre desenvolvimento humano passei a olhar as pessoas na rua com interesse renovado.Será que o cidadão ali ao lado é da parte do Brasil igual à Bélgica? Ou será que está mais para a Índia? Como se sabe, as aparências enganam. A mendiga gorda que vive pelas calçadas de Ipanema cercada de crianças, por exemplo, seria o exemplo acabado da nossa porção Índia. Mas ela, explorando as crianças de quem cuida, pode ter acesso a um padrão de vida que a aposentadoria do marido nunca permitiria. É Índia na essência, mas pode ser Bélgica no fim do dia, ao contar a féria auferida pela garotada nos cruzamentos do bairro. Essa confusão causada pela ausência de fronteiras chega a assustar, até. Veja a seguinte cena: domingo, fim de tarde, ainda em Ipanema, um rapaz se aproxima. Bem-vestido, camisa e bermudas limpas, mais par de tênis. Branco, olhos claros, cabelos penteados, ele traz um bloquinho na mão esquerda e um lápis na direita. Pede licença e desculpas ao mesmo tempo e metralha: "O amigo não se assuste, por favor, não há nada a temer. Mas veja só a miserável situação (mostra o bloquinho onde está rabiscado R$ 1.200). Se eu não pagar estes R$ 1.200 até amanhã, serei despejado, vou para a rua. O amigo não poderia me ajudar? Pode ser R$ 20 ou R$ 10. Por favor, não se assuste, é que eu não tenho outra alternativa". A surpresa é logo superada pela dúvida. Pode ser verdade, mas pode também ser um espertinho qualquer tentando um golpe. Entre um e outro, melhor pedir licença e ir para casa. Mas a imagem do rapaz, cerca de 30 anos, baixo, não sai da cabeça. Será apenas outro malandro querendo passar para a Bélgica ou mais um pobre coitado em processo de imigração para a Índia? Texto Anterior: Greve geral (1) Próximo Texto: Falta de educação Índice |
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