São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Arma do crime foi vendida à PM de AL

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ

O delegado Cícero Torres disse ontem que recebeu um ofício da empresa fabricante do revólver Rossi, calibre 38, registro W 338 880 -do qual saiu a bala que matou PC e sua namorada, Suzana-afirmando que foi a Polícia Militar que o comprou, em março de 1995.
O diretor industrial da Amadeo Rossi, Luciano Rossi, confirmou às 19h30 de ontem que a empresa vendeu a arma, fabricada em 95, para a PM de Alagoas.
Luciano Rossi disse que a venda de armas pela empresa fabricante às PMs é legal. O fabricante, que tem sua atividade controlada pelo Exército, não pode vender armas a pessoas físicas.
A Amadeo Rossi produz por ano cerca de 60 mil revólveres 38, o calibre da arma que matou PC e a namorada.
Os 14 seguranças de PC eram oriundos da Polícia Militar. Alguns até faziam dupla jornada.
"Para mim, pessoalmente, o caso está elucidado", disse Torres ontem, apesar de o inquérito policial não estar ainda aberto (o que só acontecerá hoje), e de pelo menos dois exames (o de balística e o das vísceras das vítimas) ainda não terem sido concluídos. Abaixo trechos da entrevista do delegado.
*
Agência Folha - O sr. sabe a quem pertencia a arma que, segundo a versão policial, foi usada no crime?
Cícero Torres - Recebi hoje, no final da tarde, um comunicado da fábrica Rossi informando que a arma foi vendida para a Polícia Militar de Alagoas.
Agência Folha - Com essa informação, o que pretende fazer?
Torres - Eu vou solicitar ao comando da Polícia Militar que informe qual policial estava com a arma. Eu preciso saber por que essa pessoa emprestou a arma a Suzana.
Agência Folha - Em que o senhor baseia a sua convicção de que Suzana matou PC Farias e em seguida cometeu suicídio?
Cícero Torres - No levantamento que fizemos no local do crime, onde não havia nada suspeito que indicasse outra hipótese. Nas provas técnicas, como a de que os disparos efetuados lá dentro não seriam escutados do lado de fora pela segurança. No exame médico legal, no exame de balística, em tudo.
Agência Folha - Mas essas circunstâncias não descartam a hipótese de que as mortes tenham ocorrido de outra forma.
Torres - Eu não vejo outras hipóteses. Seria preciso uma mente doentia... Não sei a que ponto chegaria a inteligência de uma pessoa tão preparada, a ponto de encenar tudo aquilo ali.
Agência Folha - O fato de o senhor estar convicto de que Suzana matou PC e depois se suicidou não atrapalharia de alguma forma as investigações sobre outras hipóteses do crime?
Torres - Não, de forma alguma.
Agência Folha - O senhor está com pressa para encerrar o caso?
Torres - Não. Eu sou o presidente do inquérito, não estou com nenhuma pressa. As investigações deverão durar 30 dias, e nesse período, eu posso até mudar a minha opinião, mas acredito que não vou mudar.
Agência Folha - O senhor conhecia Suzana? É verdadeira a informação de que ela teria tentado o suicídio?
Torres - É, ela tentou o suicídio duas vezes. Eu não a conhecia.
Agência Folha - Como foram essas tentativas?
Torres - Aí eu ainda não sei. Durante o inquérito, vamos aprofundar as investigações sobre isso.
Agência Folha - O senhor afirma que o exame de balística já foi concluído, mas o perito encarregado do trabalho, Nivaldo Gomes Cantuária, disse que ele ainda não acabou.
Torres - A informação que eu tenho é que esse exame está concluído.
Agência Folha - Informação de quem?
Torres - Do Instituto de Criminalística.

Texto Anterior: PSDB pode fechar questão pela CPMF; Governo de Roraima é acusado de reter fitas; Índios obrigam expedição a ceder jipes; Paiva quer campanha contra os acidentes
Próximo Texto: Falhas e contradições na investigação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.