São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 1996
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Investigação para valer

JANIO DE FREITAS

Ou acontece logo a intervenção direta da Polícia Federal, pela evidência de que a polícia alagoana suscita dúvidas desgastantes, e não conclusões convincentes, ou vão se perder elementos valiosos para a possível elucidação do assassinato de Paulo César Farias. E elucidá-lo seria fundamental para complementação dos inquéritos e dos processos do esquema Collor-PC.
Tal observação implica supor que o governo federal e a cúpula do Judiciário achem convenientes a elucidação e o que quer que dela decorresse. Suposição sem dúvida temerária, à vista do comentário de Sérgio Motta, ministro que ainda não se sabe se é a voz do dono ou o dono da voz: "Esse foi um Brasil que todos nós queremos esquecer".
Se o "nós", não refletindo aí a opinião geral, se refere aos caixas de campanhas e de governos, o desejo de esquecimento é compreensível. Se significa "nós do governo", não há que esperar do governo federal mais do que o acompanhamento das investigações estaduais, do qual falou o presidente.
Tudo sugere que há fundamentação bastante para que o caso passe ao âmbito federal, embora, em condições normais, coubesse à polícia alagoana. A começar de que sua repercussão internacional, pelos motivos óbvios, recai sobre o país e não sobre o Estado. E, mais importante, é inegável a possibilidade de que o assassinato de Paulo César Farias tenha sido em função de inquéritos do governo federal.
O trabalho técnico e a conclusão da polícia alagoana, exemplos, ambos, de velocidade invejável até pelo FBI, não estão apenas sob descrédito generalizado. Estão já sob contestação técnica e em Alagoas mesmo, com as observações muito convincentes do professor universitário de medicina legal George Sanguinette, destituindo a versão policial para as duas mortes.
A investigação a cargo do governo federal, por intermédio da PF, envolveria riscos muito inconvenientes para os que se dedicam ao projeto de reeleição. O delegado Paulo Lacerda, que conduziu o inquérito central do esquema Collor-PC, conseguiu comprovar que muitos empresários pagaram altas importâncias sem conexão com campanha eleitoral. Pagavam por benefícios governamentais. Na convicção de que, se não morresse, "Paulo César falaria mais cedo ou mais tarde", o delegado punha sua esperança de identificar as decisões de governo compradas por empresários. Os quais, é de conhecimento público, integraram o apoio financeiro à campanha presidencial do PSDB e estarão, com todo o seu peso, no apoio ao projeto de reeleição e, se aprovado, na campanha da reeleição.

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