São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 1996
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FAE apura suposta fraude

Primeira investigação só constatou irregularidade

LUCIA MARTINS; DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA E DA REPORTAGEM LOCAL

A FAE (Fundação de Assistência ao Estudante) está investigando denúncias de que houve falsificação na escolha dos livros didáticos em pelo menos dois municípios.
Quem escolhe os livros são os próprios professores da rede pública. Eles enviam diretamente para o MEC um formulário com o título do livro escolhido.
A FAE fornece um catálogo com 821 opções para professores da alfabetização à 8ª série.
As suspeitas começaram com a descoberta de que todos os formulários de Morrinhos (GO) haviam sido escritos com a mesma letra e tinham o mesmo livro escolhido.
A FAE enviou uma equipe à cidade e descobriu que o procedimento, apesar de irregular, não era uma fraude. A decisão de adotar o mesmo livro havia sido tomada em conjunto pelos professores e a Secretaria Municipal de Educação.
Com o mesmo livro sendo adotado em todas as escolas, as chances de o aluno ser prejudicado se a mudasse de escola cairiam.
Há pelo menos dois outros municípios sendo investigados. Os professores têm até 12 de julho para enviar os formulários. Até ontem, a FAE havia recebido 950.
'Bode expiatório'
O autor do livro de estudos sociais "Nossa Terra, Nossa Gente", reprovado pelo MEC por induzir ao racismo, João Teodoro d'Olim Marote, 70, diz que existe uma campanha de "caça às bruxas" contra o livro didático.
"Antigamente se dizia que uma moça que nunca é convidada para dançar odeia homens. Essas críticas vêm de pessoas que nunca foram chamadas para escrever e, mesmo que fossem, não teriam competência. O livro didático virou bode expiatório", diz.
Marote é autor de outros 44 livros didáticos e atual diretor da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP. Ele também é professor titular de prática de ensino na Faculdade de Educação.
O livro de Marote foi vetado porque a ilustração que representa uma criança negra mostra um menino de língua de fora. "Não há racismo nisso. Quem afirma isso é que tem preconceito."
Para o professor, a intenção do MEC foi boa, mas de "boas intenções o inferno está cheio". "Nós, professores, deveríamos ter sido consultados. Está na cara que quem fez essa avaliação nunca pisou em uma sala de aula."
Ele afirma que não ainda não sabe se vai ou não recorrer do parecer feito pelo MEC sobre seu livro. "Vou conversar antes com a editora (Ática) e pensar sobre o que fazer."
(LUCIA MARTINS e DANIELA FALCÃO)

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