São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 1996
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Você confia em investigação feita em Alagoas?

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Nem a Scotland Yard, a Interpol e o FBI juntos conseguiriam esclarecer tão prontamente um caso com tamanhas implicações. Mas a brava polícia alagoana tenta mostrar que é mais eficiente do que Miss Marple, Hercule Poirot e Eliott Ness. Deu o caso praticamente por encerrado antes de responder à perguntas que até um homem-gabiru do sertão de Alagoas faria. A saber:
1) Quem está pressionando o legista responsável pelo laudo e por quê?
2) Por que a família Farias descartou com tanta convicção a possibilidade de queima de arquivo e se apressou em aceitar a tese da polícia?
2) Por que os seguranças de PC Farias juraram de pés juntos que o patrão e a namorada brigavam feito cão e gato, enquanto outras pessoas ligadas ao casal dizem que eles se davam muito bem?
3) Por que até ontem ninguém tinha dado ouvidos ao legista Georgi Sanguinetti (ótimo nome para legista, aliás), que verificou falhas monumentais na perícia?
4) Por que os envolvidos nas acusações do esquema PC, ou melhor, todos aqueles que teriam interesse em calar para sempre PC Farias, não estão sendo recrutados para prestar depoimento?
5) Por que a polícia considerou o caso esclarecido antes de procurar saber se PC deixou alguma carta ou documento que ajudasse a desvendar os assassinatos?
6) Será que Suzana Marcolino, uma garota de ficha limpa e sem distúrbios psicológicos conhecidos, seria calculista a ponto de cometer um crime premeditado justamente dois dias depois que os filhos de PC chegaram do exterior para passar férias com o pai?
7) Suzana andou dizendo em uma butique paulistana que estava grávida de dois meses. O filho não poderia ser de PC, que foi submetido à vasectomia. Levando em conta o machismo nordestino, ele não teria melhores motivos do que ela para rodar a baiana?
Seja como for, de uma coisa eu não abro mão: no ano 2008 quero ver o filho ou a filha de PC no governo de Alagoas. Afinal, se existem duas criaturas que aprenderam que o crime não compensa, elas são Paulinho e Ingrid Farias.

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