São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ieltsin destitui sete generais linha-dura

Militares eram ligados ao ex-ministro Gratchev

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O presidente russo, Boris Ieltsin, afastou ontem sete generais que formavam a cúpula do Ministério da Defesa. A equipe destituída tinha sido montada pelo ex-ministro Pavel Gratchev, e alguns desses militares foram acusados de organizar "rebelião para pressionar o presidente".
Ieltsin, com as mudanças, busca aumentar as chances de vitória na eleição presidencial do próximo dia 3, quando enfrenta o neocomunista Guennadi Ziuganov.
A principal cartada ieltsinista na semana passada foi conquistar o apoio do general da reserva Alexander Lebed, terceiro colocado no primeiro turno, de 16 de junho, com cerca de 15% dos votos.
Lebed assumiu o cargo de secretário do Conselho de Segurança, tornando-se o homem-forte do Kremlin na área militar e de segurança. Nacionalista moderado que prioriza combate ao crime e corrupção, Lebed exigiu a demissão do general Pavel Gratchev, seu rival nas Forças Armadas.
Na terça-feira, Lebed acusou quatro generais, todos afastados ontem, de tentarem convencer Gratchev a colocar as Forças Armadas em "estado de alerta" para pressionar Ieltsin e levá-lo a desistir de afastar o então ministro da Defesa.
Em busca de mais apoio, Ieltsin declarou que as mudanças no governo vão continuar. "Estou formando uma nova equipe, confiando na opinião dos eleitores."
Semana passada, o presidente também buscou atrair eleitores do economista Grigori Iavlinski, que teve 7% dos votos no primeiro turno. Ieltsin, para conquistar o "eleitorado liberal", demitiu um vice-premiê e os chefes do Serviço de Segurança Federal (ex-KGB) e de sua segurança pessoal.
Os demitidos formavam a ala linha-dura do governo, ou seja, buscavam desacelerar as reformas pró-capitalismo e defendiam a guerra na Tchetchênia. Com essas mudanças, Ieltsin quebra uma das tradições do jogo político de sobrevivência no Kremlin. O presidente mudou, ao mesmo tempo, a cúpula das Forças Armadas e dos serviços de segurança.
Na ex-URSS, os dirigentes comunistas costumavam promover alterações na cúpula de um setor, enquanto buscavam apoio no outro pilar.
Ieltsin calcula sua força política no fato de ter sido eleito pelo voto direto em 1991 e ainda se escora nos 35,3% de votos recebidos no primeiro turno. Nessa votação, seu adversário Ziuganov teve 32%.
Pesquisa divulgada domingo indicou que, para o segundo turno, Ieltsin tem 53% das intenções de voto, contra 34% de Ziuganov.

Texto Anterior: Explosão mata 2 americanos e fere 160 na Arábia Saudita
Próximo Texto: Os generais despedidos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.