São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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Arma foi comprada 9 dias antes do crime

ARI CIPOLA; VANDECK SANTIAGO; LUCAS FIGUEIREDO
DA AGÊNCIA FOLHA E DO ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

A namorada de Paulo César Farias, Suzana Marcolino da Silva, comprou a arma que supostamente serviu para assassiná-lo nove dias antes do crime, segundo depoimentos dados ontem ao delegado Cícero Torres, que preside o inquérito do crime.
Após descobrir que a arma achada na cena do crime fora comprada pelo soldado PM José Adolfo da Silva, a polícia de Alagoas chegou a José Jeferson Calheiros de Medeiros, 30, filho do prefeito de Atalaia (48 km de Maceió) e dono da churrascaria "O Casarão".
Medeiros contou que havia comprado, na manhã de 14 de junho, o revólver Rossi calibre 38 de Luiz Albuquerque Ponte Júnior, funcionário da prefeitura local.
O filho do prefeito de Atalaia, primo em terceiro grau do senador Renan Calheiros (PMDB), disse que deu a arma de presente a sua mulher, Mônica. Em almoço no mesmo dia, na churrascaria, ela a vendeu para Suzana, que estava acompanhada de sua prima Zélia.
Segundo ele, a venda foi rápida porque era um bom negócio: pagara pela arma R$ 300 e a vendia por R$ 350, em poucas horas.
"Suzana disse à minha mulher no dia 14 que queria comprar uma arma para dar de presente à sua mãe. Depois da compra, ela pediu que, se o cheque voltasse, não falassem, em sua casa, que o cheque servira para pagar a arma", afirmou Medeiros.
A mulher de Medeiros afirmou que, no domingo passado, dia em que o corpos de PC e Suzana foram encontrados, a prima da namorada de PC telefonou para ele pedindo para que ela não contasse que havia vendido a arma para Suzana.
Segundo Medeiros, a arma foi vendida dentro da caixa que teria sido encontrada dentro do carro de Suzana. Segundo ele, a caixa era compatível para uma arma que tinha um ano e três meses.
O casal Medeiros disse ainda que a arma foi paga com um cheque do Banco Rural, assinado por Suzana e preenchido por sua prima.
O casal diz ter passado o cheque para Josenildo Pedro dos Santos, empresário dono do minimercado "Supermercado" e conhecido como "Gordo". Santos contou que, no dia 17, recebeu o cheque do dono do casal Medeiros e que o repassou a um de seus fornecedores.
"Não lembro para quem repassei o cheque, porque faço muitos pagamentos com cheques de terceiros", afirmou o dono do supermercado aos jornalistas.
Punição
O soldado José Adolfo da Silva vai responder a uma sindicância por ter revendido a arma supostamente utilizada no crime, antes de tê-la usado por seis anos.
Pela infração, Silva pode ser punido de três formas, segundo o comandante da PM de Alagoas, João Evaristo dos Santos Filho. Ele pode levar uma repreensão, ser punido com detenção no quartel ou ainda ser preso por 30 dias.
O soldado comprou a arma em um plano do fabricante com as PMs de todo o país, nos quais os soldados têm acesso a revólveres por preços mais baixos.
"Esta arma foi a terceira que comprei nesse esquema. E vendi porque estava precisando de dinheiro, porque os salários estavam atrasados", afirmou.
A arma encontrada na cama do quarto de PC foi adquirida por ele com quatro cheques de R$ 54 que ele diz ter emprestado Luiz Antonio Albuquerque Soriano, funcionário da Prefeitura de Capela e primo de Luiz Albuquerque Júnior, que vendeu a arma para Medeiros.
(ARI CIPOLA, VANDECK SANTIAGO e LUCAS FIGUEIREDO)

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