São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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Alerta na balança

Alerta na balança
Sinais de

CELSO PINTO

Sinais de alerta na balança comercial deste mês. Os dados já conhecidos embutem o risco de um déficit, que pode ficar entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões, num mês que, sazonalmente, deveria produzir um razoável superávit.
Se a hipótese de um déficit se confirmar, estará reforçando e ampliando as projeções de consultores e bancos de um déficit comercial, neste ano, superior a US$ 2 bilhões. Seria a segunda má notícia consecutiva na área mais delicada da política econômica.
O superávit comercial de US$ 263 milhões registrado em maio foi muito comemorado por Brasília. O mercado, contudo, leu o número com o cenho franzido.
A cada mês existem fatores sazonais que devem ser considerados se o objetivo é descobrir a tendência real da balança. Feita essa conta mais sofisticada, o superávit de maio se transforma em déficit sazonal, nas contas de um importante banco internacional.
Os US$ 4,506 bilhões de exportações se reduzem a US$ 4,197 bilhões, e os US$ 4,238 bilhões de importações viram US$ 4,428 bilhões. Ou seja, dessazonalizado, o número de maio aponta para um déficit no mês em torno de US$ 230 milhões. Para ser compatível com a projeção de uma balança comercial equilibrada no ano, o superávit de maio deveria ter chegado a algo entre US$ 400 milhões e US$ 500 milhões.
Um mês, em si, não prova nada. O problema é que, desde o início do ano, a tendência projetada da balança comercial tem piorado mês a mês, considerada a sazonalidade.
Uma maneira de ver essa tendência é olhar o resultado dos últimos três meses, dessazonalizados, e projetá-lo para 12 meses. Em fevereiro, esse exercício apontava para um superávit superior a US$ 2,5 bilhões. Foi o momento em que o mercado estava tranquilo, e alguns consultores argumentavam que o desempenho da balança provava o acerto do câmbio.
Em março, pela mesma conta do trimestre anualizado, o superávit de US$ 2,5 bilhões no ano já havia se transformado em empate. Em abril, a projeção já indicava um déficit em torno de US$ 2,5 bilhões.
Colocando nessa conta o número de maio, a projeção de déficit sobe para US$ 3,5 bilhões. Se junho confirmar um déficit de US$ 100 milhões a US$ 200 milhões, o trimestre projetaria um déficit bem superior a US$ 4 bilhões.
As projeções por trimestres anualizados são apenas indicações de tendências. Esse banco, por exemplo, vinha projetando para este ano um déficit de US$ 2 bilhões, que o resultado de junho pode jogar para cima.
A projeção de déficit para junho baseia-se em dois pontos. As exportações são conhecidas até a terceira semana. A média diária foi de US$ 199 milhões, abaixo dos US$ 210 milhões do mês anterior. Se a tendência for mantida até o final do mês, as exportações fechariam em US$ 3,8 bilhões, comparados a US$ 4,5 bilhões de maio (que teve mais dias úteis).
Do lado das importações, é mais difícil a projeção. O que se tem é o fechamento do câmbio comercial de importação, que não coincide com a entrada física de importações computada na balança comercial, mas guarda uma relação estatística com ela. Considerando o fechamento de câmbio até terça-feira e mantendo a mesma média nos últimos três dias do mês, chega-se a US$ 3,233 bilhões.
O resultado físico tem ficado, nos últimos dois anos, entre 20% e 30% acima do fechamento de câmbio (a diferença se explica pelas importações financiadas, fechadas pelo câmbio financeiro). Supondo que essa diferença fique em 25% neste mês, as importações iriam a US$ 4 bilhões, e o déficit seria de US$ 200 milhões. Se a diferença ficar em 20%, o déficit ficaria pouco abaixo de US$ 100 milhões.
É claro que pode haver surpresas de última hora, tanto no lado das exportações quanto no das importações, que melhorem o resultado de junho. O problema é que a tendência da balança tem sido a de piorar, e isso num momento em que o ritmo de atividade econômica continua muito modesto.
A dúvida é saber o que acontecerá com a balança quando a economia estiver crescendo a um ritmo anualizado de 4% a 5% no final do ano. O que o governo sabe, para insistir em equilíbrio ou déficit não superior a US$ 1 bilhão este ano, que os economistas do lado de cá ignoram?

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