São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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Internet faz barulho e poucos negócios

MARIJÔ ZILVETI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um bom negócio para ganhar dinheiro ou apenas um cartão de visitas. Independentemente do enfoque, o fato é que a rede mundial de computadores Internet aterrissou no Brasil há menos de um ano, e empresas de médio e grande portes apostam suas fichas nessa mídia.
A Unisys investiu na fase inicial US$ 2 milhões. Na segunda etapa, US$ 2,5 milhões. O ouro da Internet, na opinião do gerente de vendas de Internet da empresa, Marcus Vinicius Pinheiro, está na construção de intranets -redes corporativas com a estrutura da Internet.
Para chegar aí, a Unisys primeiro ofereceu acesso à Internet pela Uninet a pessoas físicas e jurídicas.
Selar a marca
"O resultado inicial é selar a marca Unisys, usando a Internet como um grande cartão de visitas", afirma Pinheiro. "Isso vai nos proporcionar novos negócios, serviços, venda de hardware e software."
Para a IBM, oferecer acesso à Internet significa uma pequena fatia de negócios de uma de suas divisões, a GSI.
Segundo Alvaro Marques, diretor-executivo da IBM Global Network (IGN), a rede mundial leva ao comércio eletrônico.
"Ser provedor de acesso não é a meta principal da IBM. Até porque não é rentável." O executivo afirma, no entanto, que a Internet "é a porta de entrada para todas as iniciativas em comércio eletrônico".
Os planos da IGN são claros: quer ser a infovia ou a via preferencial nesse negócio.
Marques não revela os nomes das empresas envolvidas para fazer comércio eletrônico. Deixa escapar que, no país, a IGN está fechando acordo com uma rede de supermercados e uma construtora.
Empresas de grande porte como Unisys e IBM acreditam que ainda faltam pelo menos dois passos para que o usuário doméstico e a empresa usem a Internet como nos EUA.
A falta de infra-estrutura em linhas telefônicas é um dos principais motivos. "O que falta hoje é passar da fase política para a fase de execução", diz Marques.
O segundo item apontado pelo executivo da IBM é a falta de conteúdo local.
Os órgãos públicos que detêm o monopólio das telecomunicações no Brasil estão com um mico na mão. Essa é a opinião de Luiz Carlos Damasio, diretor da Algarnet -divisão do grupo Algar-, que começou há poucos meses a oferecer acesso à rede mundial.
"Nossa rede telefônica é raquítica. Suporta tráfego chamadas entre 5 e 15 minutos." Para Damasio, a atualização da rede virá com a privatização.
A rede mundial representa para a Algarnet uma opção de serviços. "Acreditamos que as grandes corporações têm na Internet mais uma forma de potencialização de negócios para atender seus interesses", afirma Damasio.
Por trás do serviço de acesso, ele diz que a Algarnet oferece estrutura para montar uma rede corporativa com a venda de servidores (computadores para gerenciar redes), terceirização de mão-de-obra e gerenciamento dos recursos necessários para o funcionamento de serviços para a Internet.
Empresas de médio porte como TBA e Dialdata vêem a rede de outra forma. Por enquanto, a oferta de acesso a pessoas físicas é a atividade principal.
A TBA é uma empresa de Brasília que iniciou suas atividades em 1992 como revendedora e prestadora de serviço. No final de 1995, foi criada a TBA Internet, que passou a oferecer acesso à rede mundial em abril deste ano.
A diretora de marketing Erika Twani diz que financeiramente a Internet é um bom negócio. A empresa investiu inicialmente US$ 300 mil em equipamentos e linhas.
Segundo Twani, o retorno deverá acontecer nos próximos cinco meses. O faturamento mensal da empresa, hoje, gira em torno de R$ 20 mil.
Cerca de 60% dos assinantes de Internet da Dialdata são pessoas físicas. Um dos sócios-diretores da empresa, Hamilton Prado, diz, no entanto, que esse perfil deve mudar.
O aumento no número de páginas alocadas na Dialdata é um dos motivos, segundo o empresário. Do investimento inicial para oferecer acesso à rede, Prado afirma que colherá frutos nos próximos 12 meses.
As redes intranets, diz ele, são incipientes. O empresário prevê para os próximos anos grande crescimento na oferta de negócios pela Internet.
Aleksander Mandic, dono do BBS (serviço eletrônico para troca de mensagens e arquivos) que leva seu sobrenome, afirma que no primeiro instante o negócio é prover acesso.
"É comercialmente bom, mas não é negócio para o futuro", diz. "A tendência é que esse serviço seja de graça. Alguém assina um jornal ou revista e ganha o acesso."
Os planos de Mandic são ambiciosos. "Hoje somos provedores, mas amanhã seremos uma loja eletrônica." Para ele, o segredo não é oferecer acesso, mas serviço.
Mandic fechou um acordo com a GP Investimentos, empresa do Banco Garantia. Com o dinheiro injetado pela GP, a BBS parte para outros mercados além de São Paulo.
Para oferecer acesso no Rio e em Porto Alegre, Mandic acaba de investir US$ 1 milhão em linhas telefônicas.

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