São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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Providências!

PAULO PLANET BUARQUE

Por duas vezes passei, muito recentemente, pela traumatizante experiência de ser assaltado, para ser privado do meu carro.
Da primeira feita, apesar da ameaça do revólver, impensadamente reagi e consegui, por milagre, não ser morto, ficando com o veículo. Da segunda feita não houve jeito, e lá se foi o carro.
Em contato com os senhores delegados e investigadores responsáveis por esse setor da criminalidade, na tentativa, fácil, de identificação desses meliantes a serviço de terceiros -os receptadores, donos dos "desmanches"-, soube que são roubados 350 veículos por dia e que se trata de uma luta inglória por parte da polícia.
A prisão só pode ocorrer em flagrante, e, por sua vez, a detenção dos proprietários dos desmanches tão somente quando o carro desmontado possa ser identificado. Do que resulta também aqui a impunidade, ainda que se trate de assalto à mão armada, furto e a certeza de que os veículos são desmanchados para venda das peças ou têm como destino o Paraguai, onde qualquer cartório registra o veículo como propriedade do requerente.
Toma-se conhecimento, ainda, de que já estão em funcionamento dezenas de empresas que têm como missão a "recuperação de carros roubados", especialmente no Paraguai.
Empresas que "recuperam" os veículos mediante "entendimento" com as seguradoras. No geral por 40% do preço do seguro.
Significando dizer que, nas duas hipóteses, passou a ser rentável profissão essa de ladrões de carros. R$ 5.000, digamos, por veículo, um ou dois por dia, e eis algo inimaginável no mundo dos negócios!
Melancólica situação! Exigindo-se a pronta, a imediata mudança da lei, seja em relação aos meliantes, que a cada dia aumentam de número, visto que atividade rendosa, sem embargo de, igualmente, algo que se faça concretamente em relação aos desmanches (por exemplo, cada peça vendida produto de carro certificado pelo Detran, caso contrário apreensão de todas as demais), pois não se coíba a sua atividade criminosa, e cada vez existirão em maior número (são 1.100 na cidade de São Paulo), pois o fornecimento é constante. E, lógico, algo concreto, em nível internacional, com Paraguai e Bolívia, com rigorosa fiscalização nos pedágios.
Outrossim, como há sérias acusações de que muitos desmanches têm co-proprietários em autoridades, verificá-los um a um pelas secretarias adequadas, pois, enfim, por meio do fisco se pode chegar às conclusões necessárias.
Providências devem ser tomadas, e rapidamente, sem o que vamos ter breve, muito breve, uma guerra civil. A população está cansando de ser vítima sem soluções. E o governo deve aparelhar, dar condições àqueles delegados. É impossível a apenas uns poucos bacharéis e investigadores lutar contra quadrilhas organizadas e armadas.
Alguém tem que mostrar que a sociedade tem condições de reação.

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