São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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São Paulo e o azar de PC Farias

ALOYSIO BIONDI

Há duas semanas, o deputado paulista Erasmo Dias fez uma denúncia pública: empreiteiras ofereceram suborno a grande número de seus colegas na Assembléia, para que votem a favor do plano de privatização apresentado pelo governo Covas (por imposição do governo FHC/BNDES).
Na segunda-feira, a denúncia foi confirmada a esta Folha por um dos deputados que receberam a proposta (e que apenas negou que tivesse havido uma reunião com as empreiteiras).
Nem a denúncia, nem sua confirmação, ganharam o espaço devido na imprensa. Isso, apesar de cifras fabulosas do patrimônio coletivo (nosso) estarem envolvidas: algo como R$ 20 bilhões a R$ 25 bilhões, apenas levando-se em conta o valor das estatais de energia elétrica.
O episódio é suficiente para desmentir o toque de otimismo de análises provocadas pela morte de PC Farias. Segundo elas, o caso PC e o impeachment de Collor teriam sido um marco na história do país, reduzindo a corrupção e os assaltos contra o patrimônio público.
Na verdade, se há diferenças, são para pior. PC agiu na surdina. Hoje é tudo feito às escâncaras: privatizações a preço de banana, socorro aos bancos, venda de estoques do governo a preços baixos, roubo dos direitos de acionistas minoritários de estatais -e arquivamento de CPIs.
PC Farias e Collor tiveram o azar (?) de serem denunciados em um momento no qual os formadores de opinião e a sociedade demonstravam capacidade de reagir.
* Amarelo - As vendas de automóveis caíram de 20% a 25% em junho nas concessionárias da Grande São Paulo. A "recuperação" de maio foi mero espasmo. Crescem os gastos com juros sobre os estoques.
* Desespero - Dados oficiais: 90% das lojas da Grande São Paulo estão adotando promoções. Cortes na margem de lucro, para forçar as vendas.
* Vermelho - A indústria automobilística volta a cortar a produção, atingindo os fornecedores. Na terceira semana de junho, os setores de autopeças, forjaria e fundição lideraram as demissões.
* Jejum - A indústria de alimentos congelados e supergelados mandou embora nada menos de 12% de seus operários, até a terceira semana de junho. Sumiu o famoso "exército de consumidores" de baixa renda.
* Quebradeira - Cortes repetidos nas margens de lucros, despesas com estoques. Nas próximas semanas, as estatísticas vão mostrar nova onda de quebradeira.
* Videoteipe - "By the way", a equipe FHC deve se lembrar de um fenômeno que seus economistas criticavam no passado: quando as empresas começam a ter margens de lucros irrisórias, por causa da retração das vendas, são forçadas a suspender a produção -e demitir. Fica mais lucrativo pegar o dinheiro que seria gasto em salários e matérias-primas -e aplicá-lo no mercado financeiro. Ganhar juros, sem produzir.
* Supermercados - Cresce a guerra entre os supermercados. Além da redução de preços, até a aceitação de cheques pré-datados para 90 dias. Para os Polianas, trata-se "do aumento da concorrência" e "modernização", com a chegada de concorrentes estrangeiros. Na realidade, "caça ao consumidor". Recessão.
* Aniversário - Dois anos de Plano Real. Métodos originais de combate à inflação? Ou o velho modelo de achatar salários, desempregar, esmagar o poder aquisitivo para a recessão segurar os preços? Âncora cambial? Ou âncora salarial?

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