São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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Alanis Morissette evoca angústia feminista

EVA JOORY
ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

A cantora canadense Alanis Morissette, 21, é a nova musa da geração X. Sua marca pessoal é a honestidade.
Ela chegou ao estrelato com letras que expressam seus mais obscuros sentimentos: raiva, revolta, frustração e tristeza. O seu primeiro hit, "You Oughta Know", do disco "Jagged Little Pill", fala de sexo e de relações pessoais.
Lançado no ano passado, quando ainda era uma desconhecida, "Jagged Little Pill", transformou Alanis Morissette no mais novo fenômeno pop dos anos 90, com 12 milhões de cópias vendidas no mundo todo (32 mil no Brasil).
A cantora está no México para um único show. Em outubro, inicia sua turnê pela América Latina e faz três show no Brasil, um no Rio e dois em São Paulo, ainda sem datas definidas.
Morissette começou sua carreira aos 9 anos, compondo suas próprias músicas. Ainda na adolescência, e com o apoio dos pais, fez carreira como diva disco.
O encontro com seu produtor Glen Ballard ajudou na transformação de sua carreira. "Todas as emoções devem ser celebradas. Aprendi com ele a não esconder meus sentimentos", disse Morissette em entrevista à Folha. Leia a seguir a entrevista.
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Folha - Você se considera a porta-voz da angústia adolescente?
Alanis Morissette - Não acho que eu seja uma porta-voz, sou mais uma advogada da honestidade. As pessoas se sentem obrigadas a esconder o seu lado feio.
Folha - Qual o sentimento que a motivou a escrever este disco?
Morissette - Foi a alegria de poder escrever o que sempre quis sem ter que pedir desculpas por isso. Tinha muita raiva, muita vontade de resolver e vontade de revolucionar coisas. Nunca quis esconder esses sentimentos sombrios para não me tornar negativa, nem me tornar uma vítima.
Folha - O que acha que mudou em relação às mulheres no rock?
Morissette - As pessoas parecem esquecer que as mulheres têm tanto a dizer quanto os homens. Estamos sendo mais ouvidas agora. Agora, me comparando quando era garota e escrevia música, tenho menos medo de ser honesta.
Folha - Falar desses assuntos foi um jeito de você se rebelar da sua criação católica?
Morissette - Escrevi este disco como uma forma de repensar numa época em que estava confusa. Foi como resumir os meus pensamentos e tirá-los de mim.
Folha - Você falou que existem certos assuntos que você não transpõe para suas letras. Porquê?
Morissette - Têm certas coisas que são pessoais. Existem fronteiras que você tem que manter. É um jeito de se proteger, se preservar.
Folha - Como você se sente na gravadora de Madonna? Courtney Love recusou o convite.
Morissette - Não era o caso de estar ou não na gravadora de Madonna. Foi isso que incomodou Courtney. No meu caso, foi ter liberdade para fazer meu trabalho. Admiro Madonna e respeito seu trabalho. Ela me deu muito apoio. Folha - Camille Paglia falou que é uma de suas admiradoras.
Morissette - É bom receber elogios de gente com quem você se identifica. Ter a capacidade de falar pelas mulheres faz dela uma pessoa muito ouvida e isso a torna uma aliada minha.

A jornalista Eva Joory viajou à Cidade do México a convite da gravadora WEA

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