São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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Próxima crise é nos bancos, diz FMI

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LYON

A "próxima sacudida" no mundo, depois da crise mexicana, será no setor bancário, adverte a voz autorizada de Michel Camdessus, o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional).
"O sistema financeiro mundial está em pedaços e há uma urgência extrema em apertar os parafusos", disse Camdessus em um seminário prévio à 22ª reunião de cúpula do G-7, os sete países mais ricos do mundo, a inaugurar-se hoje em Lyon, no sudeste da França.
Pela primeira vez, o FMI estará presente, ao lado dos chefes de outras três organizações internacionais (Organização Mundial do Comércio, Organização das Nações Unidas e Banco Mundial).
Camdessus propõe, para "apertar os parafusos", que se generalizem as regras de controle bancário que são hoje aplicadas pelo chamado G-10 (os dez mais ricos).
A advertência de Camdessus coincide com alarmante relatório divulgado em Londres pela Standard & Poor's, agência norte-americana de avaliação de créditos.
Diz que o sistema bancário brasileiro é o de maior risco entre os grandes da América Latina, segundo informou ontem o jornal britânico "Financial Times".
França quer controle Coincide também com o relatório da semana passada do BIS (Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de banco central dos bancos centrais).
Nele, o BIS adverte para a necessidade de os bancos centrais apertarem a vigilância sobre o sistema financeiro e levantarem mais informações sobre o mercado global de derivativos, que, em 1995, movimentou algo em torno de US$ 40,6 trilhões.
Tal mercado é, em essência, uma aposta no comportamento futuro de determinados bens ou serviços, do gado à taxa de juros.
Nesse cenário, volta a ganhar força a idéia de algum tipo de controle sobre os movimentos de capitais. A França se dispõe a colocar o tema na agenda do G-7, informa seu ministro de Economia e Finanças, Jean Arthuis.
"Nós queremos que os mercados financeiros sejam organizados e que haja regras prudentes que nos permitam prevenir os riscos sistêmicos que poderiam ser desastrosos para a economia mundial", diz Arthuis.
Nesse ponto, o governo conservador francês está de acordo com a Internacional Socialista, o conglomerado que reúne os partidos sociais-democratas do mundo.
Taxar a especulação
Em seminário prévio ao G-7, também em Lyon, a IS defendeu uma reforma do sistema monetário que leve em conta "a necessidade de corrigir o peso excessivo dos movimentos internacionais de capital e a ausência total de custo das operações especulativas".
A taxação dos capitais especulativos é uma tese defendida há anos pelo Prêmio Nobel de Economia James Tobin (norte-americano). Ganhou até o seu nome: "Tobin tax" ("imposto Tobin").
É improvável, no entanto, que o G-7 aceite as propostas, sejam de Camdessus sejam da França. Afinal, os Estados Unidos são contra e, com todo seu peso econômico, acabam, em geral, por impor o tom das declarações do G-7.
Além disso, os membros do G-7 chegam à cúpula anual em situação conjuntural muito diferente. Para ficar só nos quatro mais ricos:
Os EUA estão crescendo moderadamente, enquanto o Japão explodiu no primeiro trimestre (crescimento de quase 13%).
A Alemanha teve três trimestres consecutivos de estagnação ou queda da economia, e a França bateu recordes de desemprego. Nesse cenário, uma coordenação de políticas parece fora de questão.

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