São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Policiais ameaçam caseiro de PC Farias

GABRIELA WOLTHERS; ARI CIPOLA

GABRIELA WOLTHERS
Policiais que investigam o assassinato de Paulo César Farias, o PC, não conseguiram localizar uma das testemunhas do caso ontem e chegaram ameaçar o caseiro que trabalhava para o empresário.
Por volta das 10h30, quatro policiais chegaram à casa de praia de PC, em Guaxuma, onde foram encontrados os corpos do empresário e de sua namorada, Suzana Marcolino. Os policiais não quiseram se identificar, mas informações colhidas indicam que participaram da operação policiais federais e civis.
Eles estavam em um Tempra verde, placas ET-5516, de São Paulo. Segundo a Folha apurou junto à Polícia Federal de Alagoas, o carro pertence à corporação.
A Folha apurou que o Detran (Departamento de Trânsito) de São Paulo também não registra nenhum Tempra com placas ET-5516. Essa combinação de carro e placas não existe nos arquivos de nenhuma cidade do Estado.
A polícia costuma colocar as chamadas "placas frias" em seus carros, para evitar identificações.
Eles procuravam por Marisa Silva, empregada de PC que encontrou bala de revólver na sala.
Marisa não estava em casa. Eles decidiram, então, interrogar o caseiro, que, segundo a polícia, é marido da empregada e se chama Raimundo Silva.
O interrogatório foi feito ao lado da guarita da entrada da casa, atrás de um portão de madeira. A Folha, que estava do outro lado do portão, conseguiu ouvir os principais trechos da conversa.
"Você tem que falar a verdade, levaram a sua mulher para a casa grande", gritava um dos policiais para o caseiro. "Casa grande" é como a família e os empregados chamam a residência de PC no bairro de Mangabeira, em Maceió.
A Folha foi até a casa em Mangabeira. Os seguranças informaram que a empregada estava de folga.
"Sabe por que eles levaram sua mulher para lá?", continuou um dos policiais. "Para orientar", completou. O depoimento de Marisa estava marcado para ontem, mas foi adiado.
O interrogatório do caseiro continuou. "E se ela sumir, se acontecer alguma coisa com ela, o que você vai fazer?", perguntou um dos policiais. Ele mesmo respondeu: "Aí vai ser o senhor que vai ter que falar com a gente".
O caseiro, com uma voz constrangida, só repetia: "Não sei de nada, não senhor, não sei".
Quando os policiais deixaram a casa, o caseiro saiu para dar uma volta. Seu rosto estava coberto de suor. Ele não quis falar com a Folha, mas, ao ser perguntado se ele concordava com o provérbio que diz que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, respondeu: "A vida é assim mesmo, minha filha".

Colaborou Ari Cipola, da Agência Folha

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