São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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Crime lembra o drama de Simpson

Como nos EUA, caso vira mania nacional

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Quem matou Salomão Hayala? Em 1973, a memorável Janete Clair paralisou o país com essa pergunta. A trama da novela "O Astro" era o placebo preferido de uma população em vias de enveredar pelo caminho sem volta da emancipação.
Quem matou Salomão Hayala era o questionamento símbolo de uma era, a dúvida mais discutida nos coretos, filas de ônibus e bares desta Pindorama.
Pano rápido. Caímos em 23 de junho de 1996. Quem matou Paulo César Farias? Da banca de jornal à vizinha lavadeira, todos, sem exceção, arriscam seu palpite sobre a verdadeira versão dos fatos.
Crime passional, é certo. Queima de arquivo, só pode ser, no país das fuleiras CPIs e da tão falada impunidade. Coisa típica de Alagoas, não dá outra, afirmam os que generalizam, não sem certa razão, os mecanismos do Brasil dos Virgulinos.
Os EUA passaram recentemente pelo mesmo festival de adivinhação. Desde o dia 12 de junho de 1994, a imprensa americana destrincha o caso O.J. Simpson, o astro negro de futebol norte-americano acusado de matar a mulher loira e branca, Nicole Brown (Simpson).
Orenthal James Simpson, que o público brasileiro conhece como ator coadjuvante da série de filmes "Corra que a Polícia Vem Aí", era o único suspeito do crime.
Ele tinha ficha na delegacia de seu bairro por ter espancado a mulher em várias ocasiões.
Vestígios de seu sangue, segundo a promotoria, foram encontrados em todos os locais referentes ao crime e adjacências.
Para se ter uma idéia do interesse despertado pelo crime nos EUA, basta dizer que o veredicto do caso Simpson, mostrado ao vivo pela TV durante o denominado "julgamento do século", arrebanhou mais espectadores do que a chegada do homem à lua.
No dia em que O.J. Simpson foi absolvido pelo júri, de maioria negra, 91% dos aparelhos de TV do país estavam ligados na transmissão da sentença.
O CNN, canal pago e mundial de notícias, mergulhou de cabeça na cobertura do caso e viu sua audiência crescer 300%.
Um dos lances famosos do julgamento foi o momento em que Simpson foi obrigado a experimentar uma luva encontrada próxima da cena do crime. Suspeitava-se que seria dele. Mas para decepção do promotor Cristopher Darden, a luva não serviu na mão do acusado.
A absolvição de Simpson dividiu negros e brancos nos EUA -os primeiros mais inclinados a considerá-lo culpado.
O Brasil agora parece mimetizar as emoções baratas do caso Simpson na novela iniciada domingo passado com as mortes de PC e Suzana.
Para a opinião pública, porém, o maior anticlímax será descobrir que PC morreu, de fato, vítima de uma investida passional.
Como o presidente John Kennedy, até prova contrária, foi morto por Lee Harvey Oswald.

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