São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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Macaxeira reúne sobreviventes de massacre escondidos na mata

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURIONÓPOLIS (PA)

Os remanescentes do massacre de Eldorado do Carajás (PA), em abril, vivem acampados no meio da mata amazônica.
Por temer uma ação de desocupação da Polícia Militar e de pistoleiros, os quase 3.000 sem-terra fizeram o acampamento da fazenda Macaxeira a 6 km da estrada mais próxima, dos quais 3 km só podem ser vencidos a pé por uma trilha na mata com trechos alagados e lama.
O acampamento é uma pequena cidade com cerca de 1.500 barracos de palha debaixo de castanheiras, vigiados 24 horas por dia por 60 homens armados divididos em equipes de 20 seguranças.
Eles tentam impedir que qualquer pessoa entre no acampamento sem ser notada. Todo dia, às 22h, os seguranças decretam o toque de recolher e de silêncio.
Os sem-terra de Macaxeira se dizem pacíficos. "As armas que possuímos são de segurança pessoal, de caça. Ninguém aqui pensa em ser guerrilheiro. Se fôssemos organizados para a luta armada, não teríamos perdido 19 companheiros no massacre", afirmou Gladson Barbosa, 22, candidato petista a vereador de Curionópolis (PA).
Excesso de zelo
A segurança no acampamento tem falhas até pelo excesso de zelo. Em maio, foi dado um alarme de que pistoleiros estavam invadindo o acampamento. Foi o suficiente para muita correria e pânico.
As 850 mulheres e as 620 crianças em idade escolar abandonaram os barracos e correram para a mata. Os homens assumiram a defesa.
"É difícil conviver com o medo e a miséria. Somos reféns da sociedade", diz Rosa dos Santos Oliveira, 21, uma das dez professoras voluntárias do acampamento.
Alguns refrescam a cabeça num riacho próximo, criadouro natural do mosquito da malária. Nos primeiros 40 dias de acampamento, registraram-se 35 casos da doença.
"Estamos num pedaço do paraíso, mas não podemos curtir porque a ameaça de confronto é constante", diz Antônio Alves de Oliveira, 35, responsável pela farmácia do acampamento. Ele ainda tem no corpo três balas dos tiros que levou no confronto com a PM.
Muitos têm casas em favelas de Curionópolis. A maioria deles é do Maranhão. O acampamento Macaxeira é, dos quatro pesquisados, o que conta com maior quantidade de gente de outros Estados -só 11% são paraenses.
Os migrantes foram para a região atraídos pelo garimpo de Serra Pelada, no início da década de 80, e pela perspectiva de emprego na nova fronteira agropecuária.

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