São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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Retomada das vendas não trará empregos de volta

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

A retomada nas vendas do setor industrial não deverá ser acompanhada por uma elevação no emprego. Grandes grupos vão continuar operando com um número muito menor de trabalhadores.
Esse quadro fica claro numa pesquisa feita no início de junho pela empresa de consultoria Price Waterhouse, que ouviu 96 das 500 maiores companhias do país.
Apenas 14,1% dessas empresas estão prevendo contratações no segundo semestre, embora a maioria -51,1%- trabalhe com a perspectiva de que suas vendas vão crescer a partir de julho.
Desde o início do ano, já se desenhava esse cenário de expansão nas vendas sem aumento no nível de emprego.
A mesma pesquisa feita pela Price no começo de 96 indicava que 68,8% dos entrevistados apostavam no crescimento das vendas neste ano, em comparação com 95.
Mesmo então, quando o otimismo era maior, apenas 11,8% dos dirigentes empresariais contavam com aumento na taxa de emprego.
Reengenharia
São muitas as companhias que terminaram recentemente ou ainda estão tocando processos de reestruturação, em grande parte empurradas pela necessidade de ser mais competitivas.
Dificilmente essas empresas voltarão a contratar no curto prazo, até porque precisam experimentar o resultado das mudanças feitas nos últimos meses ou anos.
Contratações só virão se houver expansão da capacidade instalada, no caso de indústrias, ou abertura de novas frentes, no caso de empresas comerciais.
"Os empregos perdidos são irrecuperáveis. Só haverá criação de vagas com investimentos diretos, como a construção da fábrica da Renault", diz João Paulo Gonçalves, encarregado da consultoria empresarial na Arthur Andersen.
O crescimento nos níveis de emprego deverá vir em outros setores que não o industrial, acredita José Rainho da Silva, da Ernst & Young.
Como nos Estados Unidos e em outros países, o setor de serviços começa a substituir, de forma gradual, a indústria como maior provedor de empregos, diz ele.
Além disso, o Brasil atravessa um processo de concentração de empresas nas mãos de grandes grupos em determinados segmentos, como o de autopeças. Em geral, lembra Gonçalves, esses processos resultam em redução e não aumento do emprego.
Um exemplo da tendência de reestruturação recém-terminada é a Brahma, maior produtora de cerveja do país. Nos últimos cinco anos, desde que mudou o controle do seu capital, a empresa promoveu um processo de enxugamento que diminuiu o número de empregados de 22 mil para 9.000.
(CGF)

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