São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cientistas estudam a ação de poluentes químicos na fertilidade masculina

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Vem causando apreensão entre muitos médicos o crescente declínio do número de espermatozóides no líquido seminal humano. O fenômeno é registrado praticamente em todo o mundo e assinalado em artigos especializados.
Um dos mais recentes apareceu na Revista Médica Britânica ("BMJ") e assinala que em Edimburgo (Escócia), os homens nascidos em 1970 têm contagem de espermatozóides 25% inferior aos nascidos em 1959. Estudos semelhantes referem-se a outros locais.
Mas a atenção geral sofreu máximo impacto com a publicação, em 1992, de pesquisa em 15 mil homens em 21 países. Cientistas dinamarqueses chefiados por Niels Shakkebaek usaram um tipo de metodologia chamada "meta análise".
Combinando resultados de 61 estudos de contagem e de qualidade de espermatozóides nos últimos 50 anos em todo o mundo, os cientistas verificaram que a contagem média de espermatozóides caiu de 173 milhões por centímetro cúbico em 1938 para 66 milhões em 1980. Nem todos os especialistas concordam com os dados e muito menos com os dinamarqueses, dizendo ser controvertida a "meta análise".
Exemplo sugestivo são os números da Finlândia que, segundo outros cientistas, se mantêm constantes. Alegam outros que, se a baixa existe na Dinamarca, como parece de fato existir, não se pode generalizar esse caso. Um livro de grande vendagem ("Cur Stolen Future") explora o assunto.
Além da estresse, do fumo e das drogas, insiste principalmente na ação de poluentes químicos industriais.
Estes últimos agentes atingiriam o útero e prejudicariam a parte reprodutora do embrião, criando condições favoráveis para a infertilidade masculina.
Os responsáveis pela indústria química rebatem veementemente essas afirmações e dizem que ninguém demonstrou relação de causa e efeito entre os poluentes químicos e a baixa dos espermatozóides.
Mas os cientistas sabem que os poluentes do ar, da água e do solo, uma vez no corpo podem se ligar a receptores de estrogênio e de outros hormônios e, pelo menos em animais de laboratório, mesmo em doses mínimas, podem feminizar os embriões masculinos, acarretando menores testículos e pênis, assim como menor produção de espermatozóides.
Dando um balanço nos dados, as coisas não parecem tão feias como de início, e o artigo dinamarquês pode ser posto de quarentena por enquanto. É preciso, porém, que se acelere o passo nesse tipo de pesquisas.

Texto Anterior: Ciência busca mais "vilões"
Próximo Texto: Egberto e Naná revivem disco histórico
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.