São Paulo, quarta-feira, 3 de julho de 1996
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Especialistas encaram Aids como tratável

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um velho conceito começa a ser derrubado: em muitos centros de pesquisa, a Aids não é mais considerada uma "doença mortal", mas uma "doença tratável".
Intervir e controlar são agora as novas metas no tratamento dos portadores do HIV.
Estabelecer esses objetivos só foi possível graças aos novos medicamentos, especialmente os "inibidores de protease", que aumentam a sobrevida dos portadores.
Protease é uma enzima do vírus necessária para "amadurecer" o HIV. Ao ter a ação dessa enzima inibida, o vírus não consegue invadir e infectar novas células.
Essa nova geração de drogas está sendo vendida nos EUA com os nomes de Saquinavir, Indinavir e Ritonavir.
"A sobrevida aumentou por causa dos novos tratamentos. O problema é que os custos também cresceram", disse à Folha Ron Stall, coordenador do Caps (Center for Aids Prevention Studies), de San Francisco.
"Estamos em sintonia com o novo conceito, que vê a Aids como uma doença crônica, tal qual o diabetes. Sem cura, mas tratável", confirmou Alexandre Granjeiro, sociólogo do CTR (Centro de Treinamento e Referência da Aids), em São Paulo.
Exames periódicos e o coquetel diário de medicamentos como Epivir, Norvir, AZT, ddI e ddC podem levar um HIV positivo a viver mais, desde que tenha dinheiro.
A nova forma de encarar a Aids foi tema de capa da última edição da revista "The Economist".
Segundo a revista inglesa, "nos últimos 15 anos, o HIV foi reconhecido como a causa da destruição do sistema imunológico de 7 milhões de pessoas no mundo". A ONU estima ainda que, até o ano 2000, de 11 milhões a 14 milhões estarão infectados pelo vírus.
Com as novas drogas, "pessoas em tratamento, mesmo próximas da morte, estão agora se recuperando e se sentindo saudáveis", conclui a revista.
O infectologista brasileiro David Uip concorda. "Falo nisso há muitos anos e já me chamaram até de louco. A Aids não é uma doença iminentemente mortal, mas um mal crônico tratável", disse.
Uip adverte que é preciso "tomar cuidado para não afirmar que a doença acabou". "É preciso continuar se cuidando."
Custos
No Brasil, a sobrevida de um doente é três a quatro vezes menor que a de um norte-americano ou de europeu. O Ministério da Saúde informou anteontem que está adiando a compra dos novos medicamentos, os "inibidores de protease", por falta de verbas.
Para Ron Stall, o custo do tratamento da Aids é um assunto complicado. "Existem vários itens, como o preço do hospital, do médico, dos remédios, que variam em cada país. Depende ainda de quão doente está o portador", disse.
"Já ouvi dizer que o custo da Aids, do diagnóstico à morte, chega a US$ 120 mil nos EUA, apesar de haver contestação. O problema é nos últimos seis meses de vida."
No Brasil, segundo Artur Kalichman, diretor-assistente do CTR, o único levantamento feito até hoje também não chega a um valor exato. "Fala-se em um custo de US$ 17 mil a US$ 22 mil por ano."
Kalichman lembra que há medicamentos fornecidos gratuitamente pela rede de saúde pública e casos de firmas que bancam o tratamento dos funcionários.

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