São Paulo, quarta-feira, 3 de julho de 1996 |
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FATAL
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Logo o espetáculo transformou-se -ironicamente, numa época de muitos mortos- no mais radical disco ao vivo da história da MPB. Passados 25 anos, volta ao mercado em CD -promessa da gravadora PolyGram para os próximos dias-, tão atual quanto em 1971. Em 1971, os integrantes do movimento tropicalista, que eclodira em 1967-68, haviam se dispersado. Caetano e Gil estavam no exílio. Os demais -Tom Zé, Torquato Neto, Mutantes, Capinam, Nara Leão- seguiam caminhos diversos, alguns rumo à "piração", saída em voga para os impasses da época. "Mantive no Brasil a ideologia do tropicalismo. Se eu não tivesse ficado aqui como porta-voz, com minha irreverência, com aquele meu cabelo, com aquela minha imagem que as pessoas relacionavam com a de Caetano, talvez o movimento nem tivesse sobrevivido à ditadura", disse Gal Costa à Folha (leia entrevista com a cantora à pág 4-3). Gal encontrou em "Fatal" seu veio de resistência. Chamou o poeta Waly Salomão -rebatizado Sailormoon- para dirigir o show, no teatro Tereza Rachel (RJ) e depois no Ruth Escobar (SP). O nome saiu de um texto de Waly publicado no tablóide "Pasquim". Vinha entre hifens ("-Fa-tal-"), "para marcar a experimentalidade e criar estranhamento pela suspensão do costumeiro", afirmou Waly. "Fui responsável pelo lado conceitual, pela escolha do repertório e pela descoberta de Luiz Melodia", lembrou. Além de "Pérola Negra", de Melodia, Gal revelou, com "Dê um Rolê", os Novos Baianos, ainda à margem do sucesso em 71. Permitiu que, um ano depois, Jards Macalé pudesse gravar seu primeiro disco. Revelou nuances de Roberto Carlos ("Sua Estupidez") e Jorge Ben ("Charles Anjo 45"). Subverteu os conceitos tropicalistas de resgate, abandonando o sarcasmo e cantando clássicos de Luiz Gonzaga ("Assum Preto") e Ismael Silva ("Antonico"). Trouxe músicos como Novelli (baixo), Jorginho ("bat"), Baixinho ("tumba") e o guitarrista Lanny Gordin, responsáveis pela inacreditável injeção de rock na bossa nova à João Gilberto. Lanny, recém-resgatado pelo paraibano Chico César, foi dos que partiram para a piração. "Fui descansar em Londres, e lá começou minha piração. Tomei muito LSD, que mexeu com minha cabeça. Estou viajando até hoje", afirma Lanny, que atualmente toca na boate de seu pai, em São Paulo. LEIA MAIS sobre os 25 anos de "Fatal" à pág. 4-3 Próximo Texto: Nunca houve um show como aquele Índice |
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