São Paulo, quarta-feira, 3 de julho de 1996
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Gattai celebra 80 anos com lasanha e acarajé

OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Ontem foi dia de festa no endereço mais quente da Bahia, a casa de Jorge Amado no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Cerca de 140 pessoas participaram do almoço de aniversário de 80 anos de Zélia Gattai, mulher do escritor.
Os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Sarney (PMDB-AP), o humorista Juca Chaves, o escultor Mario Cravo Jr. e os artistas plásticos Carybé e Antonio Calasans Neto foram alguns dos nomes famosos presentes.
"Estou muito feliz de estar completando essa idade, é um aniversarião", disse à Folha Zélia Gattai, paulista que adotou e foi adotada pela Bahia desde que há 51 anos casou-se com Jorge Amado, 83.
"Zélia tornou-se parte do patrimônio da Bahia", afirmou o senador Antonio Carlos Magalhães. Para Sarney, ela é o "esteio da obra de Jorge Amado".
Segundo Amado, "Zélia continua jovem e isso é muito bom".
O almoço foi o primeiro compromisso social do casal desde sua chegada a Salvador em 30 de maio último, vindo da França, onde, 18 dias antes, Amado sofreu um edema pulmonar (acúmulo de líquido no pulmão causado por problema circulatório).
Após dez dias internado no hospital Broussais, em Paris, o escritor recebeu alta e, depois de uma semana, retornou à Bahia.
"Foi um susto, mas agora está tudo bem", disse Zélia. "Esse homem é uma fortaleza."
Às 13h, familiares e amigos do casal começaram a lotar a varanda da casa da rua Alagoinhas, nº 33, onde uma baiana preparava acarajés e abarás. Depois foi servido um cardápio típico baiano -caruru, moqueca, vatapá etc.-, em homenagem a Jorge, e outro bem italiano, com lasanha, canelone e polpetini al sugo, receitas da família de Zélia.
Às tantas, Jorge não se conteve: "Zélia, busque um pouco de sarapatel para mim". O prato, feito à base de tripa e sangue de boi, não faz parte da dieta do escritor. "Está muito apimentado", reclamou o ex-presidente Sarney.
Ontem também foi lembrado o aniversário de dez anos da criação da fundação Casa de Jorge Amado. Como parte das comemorações, a casa onde nasceu o escritor em Ilhéus será restaurada.
No próximo dia 19, será aberta uma exposição sobre a vida e a obra de Zélia Gattai na fundação, situada em pleno Pelourinho.
Zélia já escreveu cinco livros de memórias, entre eles "Anarquistas Graças a Deus"; um romance, "Crônica de uma Namorada"; e duas obras infantis.
É também fotógrafa, com um livro, "Reportagem Incompleta", com fotos de Amado, já publicado. Agora, seu acervo de cerca de 20 mil negativos, doado à fundação, começa a ser editado em catálogos.
Seu próximo projeto, por ora interrompido devido aos problemas de saúde do marido, é contar tudo o que se passou na casa de Salvador onde a dupla mora há 30 anos.
O almoço de ontem é mais um capítulo que se agrega ao novo livro, batizado de "Seara Vermelha".

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