São Paulo, quarta-feira, 3 de julho de 1996 |
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Gal diz que quer gravar outro CD ao vivo
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Em entrevista à Folha, ela descreve o show que originou o disco, fala sobre suas lembranças da época e diz que pensa em gravar outro disco ao vivo. * Folha - "Fatal" completa 25 anos. Parece que faz tanto tempo? Gal Costa - Nem parece. Eu não sinto muito o tempo passar, não sou saudosista. Foi uma época maravilhosa e ao mesmo tempo muito difícil, pesada. Confesso que não gostava muito desse disco, achava que tinha problemas técnicos. Hoje gosto muito, reconheço na minha voz a emoção da época. Folha - "Fatal" é um disco triste? Gal - É, porque era um momento triste, barra-pesada. Foi muito direcionado para as figuras de Caetano e Gil. Naquele momento, eu representava, através da minha imagem, a figura do Caetano. Folha - O show une samba, bossa nova, rock'n'roll. Era intencional? Gal - Esse show todo foi experimental. Tinha o lado de violão, que na época eu tocava, e o do grupo, pesado, de rock, bem experimental. Eu entrava, fazia uma parte inteira sentada num banquinho indígena, voz e violão. Em "Vapor Barato", a banda ia entrando até formar uma massa bem pesada de som. Eu saía do palco e vinha com uma pintura dourada na testa. Janis Joplin me influenciava, e também a bossa nova. Numa época, João Gilberto ia todo dia ver esse show. Eu perguntava: "João, qual a parte que você mais gosta do show?" Achava que ele ia responder a primeira, com violão, mas ele dizia: "Gosto mais da segunda". Folha - Por que "Fatal" é até hoje seu único disco solo ao vivo? Gal - Eu gostaria de fazer um agora. Quem sabe nesta década ainda faça um show cantando meus sucessos ou pessoas que foram marcantes na minha carreira. Eu rejeitava um pouco a idéia, porque achava que nunca saía tecnicamente no nível de um disco de estúdio. Mas hoje isso mudou. Folha - Em 71, a imprensa publicava textos como "Gal Costa, acusada de não tomar banho e criar piolhos no cabelo, sabe que é preciso vencer muitos obstáculos". Você sofria preconceito? Gal - Sim. Uma vez fui gravar um documentário e começou a juntar gente. As pessoas batiam na kombi em que estava e me chamavam de macaco, piolhenta, suja. Saí de lá chocada, aos prantos. Mas não desistia, sou tinhosa. Tinha que ir contra a caretice. Tomava banho todo dia, era limpa, cheirosa. Era um ato político. Folha - Quais são seus próximos projetos? Gal - Gravei as cinco canções do filme "Tieta" e vou começar a ver repertório para um novo disco, de músicas inéditas. Ia gravar Paulinho da Viola, mas vou adiar um pouquinho. Quero ver se descubro alguma revelação. É possível que faça um show com Caetano, em cima das canções de "Tieta" e do nosso repertório. A vontade existe, a gente deve fazer. Texto Anterior: El Público volta a se apresentar Próximo Texto: Disco é atemporal Índice |
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