São Paulo, quarta-feira, 3 de julho de 1996
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Estado de saúde pode tirar votos decisivos, diz analista

JAIME SPITZCOVSKY
DO ENVIADO ESPECIAL

As dúvidas sobre o estado de saúde do presidente Boris Ieltsin podem levá-lo a perder poucos votos, mas votos que são cruciais numa disputa equilibrada.
Para os russos, a imagem de um presidente com problemas de saúde lembra líderes soviéticos que mantiveram o cargo até a morte.
A avaliação é do cientista político Boris Kagarlitski, 38, da Academia Russa de Ciências. A seguir, alguns trechos da entrevista.
(JS)
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Folha - Os problemas de saúde enfrentados por Ieltsin representam perda de votos?
Boris Kagarlitski - Claro que não se trata de algo bom para o candidato. Mas vai influenciar pouco, creio que cerca de 1% ou 2% dos seus eleitores podem mudar de idéia. O voto em Ieltsin é basicamente um voto de rejeição a Guennadi Ziuganov. Portanto, o eleitor pensa mais em rejeitar um candidato do que em apoiar um deles. Agora, os poucos votos que Ieltsin deve perder podem ser decisivos numa disputa que acredito estar muito equilibrada.
Folha - A situação de Ieltsin parece a situação de dirigentes soviéticos que ficaram em seus cargos até a morte, como Leonid Brejnev, morto em 1982, e Constantin Tchernenko, morto em 1985?
Kagarlitski - Sem dúvida. Os eleitores fazem a comparação, mais com Tchernenko do que com Brejnev. Em 1985, Tchernenko estava muito doente, mas havia eleições do regime soviético.
Levaram-no para votar num posto de votação montado apenas para ele, para que pudesse ser filmado, e a fita, mostrada na TV.
Só que pouco depois da encenação, Tchernenko voltou ao hospital e morreu. Há gente que menciona essa situação comparando com Ieltsin.
Folha - O sr. acredita na possibilidade de uma vitória de Ziuganov?
Kagarlitski - Pode ocorrer, mas ele não assume o poder. Ele precisaria ganhar por uma larga margem para conquistar o poder, como 10% de vantagem.
Com apenas alguns pontos na frente, o campo ieltsinista deve promover fraude para impedir a derrota do presidente. E, mesmo se a fraude não funcionar, devem impedir a posse de Ziuganov.
Folha - Seria então um golpe de Estado?
Kagarlitski - A forma escolhida eu não sei. Precisaríamos esperar para ver.

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