São Paulo, quarta-feira, 3 de julho de 1996
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Saúde é um segredo de Estado

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

"Camarada, sua saúde não pertence a você. É propriedade do Estado e do partido". A frase de Vladimir Lênin a um de seus ministros, extraída de um livro da era soviética, ilustra o comportamento russos em relação à saúde de seus líderes.
Só estrangeiros ousam fazer perguntas quando o presidente russo, com histórico de problemas cardíacos, desaparece, e assessores dizem que ele apenas perdeu a voz.
Na maior parte da história do país, os líderes não foram eleitos. O chefe do Kremlin não tinha direito de mostrar fraquezas humanas nem problemas de saúde.
Foi o ditador Josef Stálin que transformou sua saúde e a de seus principais assessores em segredo de Estado. Um psiquiatra que concluiu, em meados dos anos 30, que ele sofria de paranóia, morreu misteriosamente antes de poder tornar seu diagnóstico público.
Confirmando a tradição, a mídia russa colocou uma cortina de fumaça ao redor do fato de Boris Ieltsin não ter comparecido a compromissos desde o dia 26.
Os jornais locais só mencionaram a notícia de passagem. Os principais canais de TV também deram pouca atenção ao assunto.
Analistas acreditam que o problema de Ieltsin só terá impacto sobre o resultado da eleição de hoje se ele não aparecer para votar.
O adversário de Ieltsin, Guennadi Ziuganov, tem tentado chamar a atenção para o fato de que o Kremlin pode não estar dizendo a verdade sobre o presidente.
Os principais canais de TV do país mostraram anteontem imagens de uma entrevista coletiva de Ziuganov, mas não citaram suas suspeitas sobre a saúde de Ieltsin.
A maior parte da mídia não esconde sua preferência pela candidatura de Ieltsin.

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