São Paulo, quarta-feira, 3 de julho de 1996
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O RISCO DO POPULISMO

Um velho ditado diz que não há almoço grátis. A estabilização produziu inestimáveis benefícios ao país, mas a desaceleração da economia e a contenção de gastos do Estado começam agora a cobrar a conta. A fatura aparece como queda na popularidade do presidente. É nesse momento que o risco de arrefecer no empenho de reformas e resvalar para medidas populistas se agudiza. Seria pôr a estabilização a perder.
A valorização do real simbolizou em certa medida o compromisso prioritário do governo com o combate à inflação. Pode-se indagar por que, neste momento, o presidente da República teria decidido afirmar que desde o início do plano esteve preocupado com os riscos e custos da valorização. Tal declaração parece mais destinada a conquistar a simpatia de assalariados ameaçados pelo desemprego e empresários constrangidos pela dura concorrência dos importados que a contribuir para a tranquilidade no mercado cambial.
Não se trata, é claro, de prenunciar alguma desvalorização, já que o próprio relato presidencial sugere que os momentos de crise foram superados e a política cambial está hoje mais consolidada. A questão é outra.
Documento do Banco Mundial divulgado nesta segunda-feira alerta para o risco de que, na América Latina, o aumento do desemprego seja um solo fértil para o reerguimento de tendências políticas contrárias à abertura comercial, aos cortes de gasto público e às privatizações. É uma ameaça de retrocesso que, em tese, pode eventualmente crescer dentro dos próprios governos comprometidos com a modernização e a reforma do Estado.
Sob o descontentamento de uma população que reconhece os ganhos da queda da inflação, mas não identifica com clareza a necessidade de alguns remédios amargos, não seria difícil o crescimento eleitoral de populistas que prometessem o irrealizável, galgando degraus de poder à custa de propostas demagógicas, jogando por terra a incipiente estabilização e a chance de dar início a um novo ciclo de crescimento.

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