São Paulo, quarta-feira, 3 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VICE-CAMPEÃO DOS CAMPEÕES

O relatório do Banco Mundial (Bird) que coloca a América Latina como a campeã de violência do planeta e o Brasil como vice-campeão da América Latina é preocupante. Mais violenta que o Brasil é apenas a Colômbia, país que foi literalmente assaltado pelos traficantes de drogas.
O que mais inquieta é a constatação, feita pelos especialistas durante encontro em Bogotá, de que o fenômeno da violência é como que uma epidemia que se instala na sociedade rompendo os laços de solidariedade e criando uma cultura que incentiva e procura tirar proveito da barbárie.
Embora seja causa importante, a pobreza não determina a violência. Países bem mais miseráveis da África e da Ásia apresentam taxas de homicídio por cem mil habitantes inferiores às verificadas em alguns países latino-americanos.
Os especialistas acrescentam à pobreza o crime organizado, o desemprego, a falta de educação e a impunidade como fatores causadores da epidemia de violência.
E, no quesito impunidade, o Brasil vem dando bons exemplos de como ela é arraigada. Do massacre de Carajás à explosão do shopping de Osasco passando por tantos outros crimes, chacinas, casos da mais completa negligência, uma lista completa seria quase que infactível.
E o despreparo -consentido ou involuntário- da polícia é um dos elementos que contribuem para a perpetuação da impunidade.
O açodamento policial no caso PC Farias e a trapalhada da PF na prisão dos assassinos de Chico Mendes são apenas os casos mais recentes e eloquentes que evidenciam o despreparo de agentes da lei.
Se, com o Plano Real, o Brasil deu um passo no combate à pobreza, ainda resta muito por fazer na questão do desemprego, da educação e principalmente da impunidade. E é bom fazer rápido para não ter de conviver por mais tempo com esse triste título de vice-campeão dos campeões.

Texto Anterior: O RISCO DO POPULISMO
Próximo Texto: SEM FATALISMO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.