São Paulo, sexta-feira, 5 de julho de 1996
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PF vai pedir fim do sigilo da conta de PC em Maceió

Advogado da família Farias disse que vai recorrer à Justiça

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A quebra do sigilo bancário de Paulo César Farias no Banco Rural, em Maceió, será pedida pela PF (Polícia Federal) para tentar desvendar a origem de depósitos feitos em sua conta até o último dia 23 de junho.
Nessa data, o empresário apareceu morto ao lado da namorada, Suzana Marcolino.
A PF quer saber também se há alguma relação entre esses depósitos e os recursos que foram amealhados pelo esquema PC durante o governo Collor (1990-1992).
A polícia já rastreou as contas do tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor de Mello até 1992. Desde então, não houve novos acompanhamentos.
O Rural é citado em vários inquéritos da PF por ter aberto contas "fantasmas" administradas pelo empresário. PC e Suzana tinham contas especiais no banco.
"Tribuna de Alagoas"
A polícia precisa instaurar um inquérito próprio para apurar a conta de PC ou convencer os promotores de Alagoas a pedir a quebra do sigilo bancário. Isso já foi feito em relação a Suzana.
A justificativa para abrir o inquérito poderá ser a investigação das empresas de PC. Delas, na avaliação da PF, deveriam se originar os recursos que abasteciam a conta do Banco Rural.
O interesse imediato do inquérito deverá ser descobrir de onde veio o dinheiro para a montagem do jornal "Tribuna de Alagoas", da família Farias. O seu lançamento é previsto para o fim deste mês.
Se as empresas de PC foram responsáveis por depósitos na sua conta, elas poderão sofrer devassa fiscal no caso de não justificarem faturamento correspondente.
"A Tratoral (Tratores de Alagoas S.A.) é a única firma realmente estabelecida de Paulo César Farias", afirma a PF no inquérito 113/92, que indiciou o empresário sob a acusação de crime de formação de quadrilha.
Segundo o inquérito, PC tinha mais quatro empresas "de fachada": EPC, Brasil Jet Táxi Aéreo, Mundial Aerotáxi e Sultam. Elas emitiam notas fiscais "frias" para justificar propinas pagas por empresários.
O delegado aposentado Paulo Lacerda, que apurou o esquema PC, avalia que o empresário movimentou cerca de R$ 1 bilhão.
A PF comprovou que essas empresas movimentaram apenas R$ 17 milhões. O restante do dinheiro teria sido enviado a países conhecidos como "paraísos fiscais", onde o sigilo bancário é inviolável.
A quebra do sigilo de PC só deverá ser pedida depois da conclusão das investigações sobre a morte do casal, conduzidas pelo delegado Pedro Berwanger.
O trabalho da PF sobre o Collorgate poderá ser prejudicado se os depósitos na conta de PC foram feitos em dinheiro.
Os depósitos interbancários ajudaram a desvendar o esquema montado pelo empresário no governo Collor.
Advogado reage
O advogado Nabor Bulhões, que representa a família Farias, disse ontem que vai recorrer à Justiça, caso a PF não limite suas investigações ao assassinato de PC.
A intenção da PF, segundo revelou a Folha, é de tentar fazer conexões entre provas colhidas agora e o Collorgate. Uma das armas importantes nesta tarefa é a quebra dos sigilos bancário e telefônico.
"Qualquer prova colhida desta maneira será considerada ilícita pela Justiça. Poderemos entrar com mandado de segurança para impedir o uso delas."
O advogado lembra que já conseguiu retirar do processo do Collorgate provas consideradas ilícitas, como os disquetes do computador da empresa Verax, holding dos negócios de PC Farias.
Bulhões disse que está atento à utilização, por exemplo, da quebra do sigilo telefônico de PC e dos seus irmãos. Para a PF, cerca de 2.000 ligações registradas nos telefones do empresário e da sua família, podem mostrar novos negócios e investimentos dos Farias.

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