São Paulo, sexta-feira, 5 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mulheres estudam mais e ganham menos

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de terem estudado mais, as mulheres ganham entre 18% e 42% a menos do que os homens no Brasil. A discrepância se estende por todas as regiões do país e pelos vários setores da economia.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar de 93, a população feminina com mais de 10 anos tem 5,1 anos de estudo, contra 4,9 anos da masculina. Há também menos mulheres analfabetas: 20%, contra 21% de homens.
Entretanto, isso não constitui vantagem profissional. Se são empregadas, as mulheres ganham, em média, 82% do que ganham os homens. Quando são autônomas, a diferença é ainda maior: só alcançam 58% da renda masculina.
Cartilha
Essas são conclusões reunidas na "Cartilha para Mulheres Candidatas a Vereadoras", uma iniciativa da bancada feminina do Congresso e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A parte do documento dedicada às chamadas desigualdades de gênero vai além da clássica explicação de que a mulher ganha menos porque tem uma jornada de trabalho remunerado menor -de 36 a 38 horas semanais, contra 44 a 46 horas dos homens.
Mapas mostram que, na maioria dos Estados, a força de trabalho feminina recebe menos por hora trabalhada do que a masculina.
Só em Estados do Nordeste (com exceção da Bahia), nos ex-territórios da região Norte e no Tocantins os valores pagos pela hora trabalhada para homens e mulheres se igualam. Não é à toa: é a hora mais mal remumerada do país: R$ 2,00.
Nos Estados onde se paga melhor, as mulheres sempre ganham menos. No Distrito Federal, onde a hora remunerada masculina chega até R$ 6,00, o valor pago à força de trabalho feminina não ultrapassa R$ 4,00.
Para a pesquisadora do Ipea Lena Lavinas, uma das causas é o que ela chama de divisão sexual do trabalho. Há uma concentração de mulheres em profissões voltadas a cuidados com a vida e que, em geral, são mal remuneradas.
Professoras
"Cerca de 80% das mulheres trabalham como professora de 1º grau, secretária, costureira, telefonista, empregada doméstica, serviço público e comércio. Só 15% trabalham na indústria, onde o rendimento é maior", explica a pesquisadora.
Além disso, completa a pesquisadora, os salários são mais baixos também porque as mulheres têm dificuldade de atingir postos de direção.
"Só 10% desses postos são preenchidos por mulheres. Isso cai para 4% nas grandes empresas."
Segundo Fúlvia Rosemberg, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e professora da PUC-SP, a segregação começa na escola, onde as mulheres são encaminhadas para as áreas de ciências humanas (cuidados com a vida), e os homens, para a de exatas (produção de riquezas).
Melhor desempenho
Entre as causas da maior escolarização feminina, ela relaciona a pressão mais intensa da sociedade para o homem abandonar antes a escola e começar a trabalhar, um melhor desempenho feminino e o fato de a escola ser uma opção de socialização para a mulher.
Ambas as pesquisadoras são contra os sistemas de cotas como forma de atacar a questão da desigualdade de gênero.
"Isso é corrigir o dado estatístico e não sua causa", diz Fúlvia. Ela defende a valorização salarial das profissões voltadas para os cuidados com a vida, que concentram mais mulheres.

Texto Anterior: Malha Oeste vai receber US$ 4 mi
Próximo Texto: Desemprego feminino é maior do que masculino
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.