São Paulo, sexta-feira, 5 de julho de 1996
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Uma questão política

WILSON BALDINI JR.

Desertar ou não? Eis a questão. Todo início de torneio importante é a mesma coisa. Sempre alguns atletas cubanos ou simpatizantes do sistema socialista aproveitam para pedir asilo político aos Estados Unidos.
Em compensação, monstros sagrados do esporte da maior ilha do Caribe, como o peso-pesado Félix Savon e o recordista do salto em altura Javier Sotomayor, não se cansam de elogiar o governo e o sistema adotado. Com quem está a razão?
Há mais de 40 anos, dois eram os orgulhos húngaros. O time de futebol, que quase ficou com a Copa de 54, e a formação do primeiro grande herói do ringue olímpico.
Único ganhador de três medalhas de ouro em categorias diferentes (médio-ligeiro e médio), Laszlo Papp foi o maior destaque das delegações húngaras nas Olimpíadas de 48 (Londres), 52 (Helsinque) e 56 (Melbourne).
Na última vitória fez sua melhor luta. Emocionado, soubera pouco antes que seus compatriotas lutavam contra a invasão da União Soviética.
Depois do tricampeonato, conquistado sobre o porto-riquenho José Torres -mais tarde campeão mundial- e aos 30 anos, o "Urso dos Cárpatos" teve a ambição de se tornar profissional.
Pura ilusão. O máximo que as rígidas autoridades de seu país permitiram foi que ele beliscasse o cinturão europeu. "O mundial jamais".
Na época, maravilhado pela fama e respeito adquiridos, aceitou as determinações e contentou-se em se tornar atração de TV.
Mas, "rei morto, rei posto". "É bom ser honrado e amado pelo povo, mas imagine só como é entrar num supermercado para comprar linguiça e não ter dinheiro para pagar. Quando tive a chance de ganhar dinheiro, muitas pessoas me impediram", revela Papp, aos 70 anos. Tomara que Savon e Sotomayor tenham futuro diferente.

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