São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996
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Café Society

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Americanos e brasileiros sempre foram muito diferentes: uns construíam foguetes numa cidade do interior, os nossos compatriotas desfilavam de Rolls Royce em meio a passeatas estudantis em Paris. Os americanos vestiam pesadas e deselegantes roupas antigravidade e capacetes sem qualquer adereço a não ser o da empresa -Nasa-, os brasileiros vestiam Dior e ostentavam casacos de vison numa cidade que nem faz frio -Rio de Janeiro. Em comum, só uma coisa: os dois estavam com a cabeça na lua.
Mas nós ganhamos: os americanos voltaram da Lua em 1969 e os brasileiros milionários só ultimamente, quando começaram a trabalhar ou se desfazer de suas propriedades quatrocentonas construídas séculos atrás com a exploração do trabalho escravo, ou como preferem alguns, negro.
A televisão sempre adorou derrubar o mito da boa vida em sociedade, mostrando personagens pateticamente engraçados dentro de Balenciagas com costura desfeita.
Consuelo Leandro levava a platéia à histeria, quando contava vantagens sobre o seu milionário "marido Oscar, podre de rico", esnobando o simpático Manoel de Nóbrega em "A Praça da Alegria". Maria Teresa, fazia sua "Lady Grace Benedita" falar numa língua parecida com o inglês, cujo melhor tradutor era Pagano Sobrinho. Sonia Mamede era Ofélia, que "só abria a boca quando tinha certeza", exatamente como aquela dama da sociedade fez recentemente.
Brandão Filho era o primo pobre de Paulo Gracindo, que foi o melhor milionário da TV em "O Cafona", onde, ao lado de Renata Sorrah, sua filha na trama, discutia na mesa de seu "Petit Dejeuner" não a sua falência, mas a qualidade do Camembert. Seu tema musical dizia em certo trecho: "Mas na lista dos dez mais, todo ano sou casal, do qual sou um bom rapaz sem ter roupa da Ducal".
Na mesma novela, Tonia Carrero colocava gelo no champanhe para "Tirar o gás". Very fancy!!!
No final da história, quem levava a melhor era o cafona Francisco Cuoco, novo rico que casava a filha Elisângela com um príncipe, abandonava a falida Sorrah de minissaia na porta da igreja e voltava para sua Shirley.
Shirley era Marília Pera. Ela foi Manuela, milionária solitária de Beto Rockefeller, e em "Brega e Chique" a milionária decadente, obrigada a trabalhar como marmiteira (vai aí uma sugestão às novas pobres: por que não lançar o cardápio do "Russian Tea Room" por quilo).
A brega era Glória Menezes, que depois também virou milionária decadente em "Rainha da Sucata" onde era esposa do "primo rico" Paulo Gracindo e arquiinimiga de Regina Duarte, a "cafona" da história... que se repete.
Aracy Balabanian e Carmem Monegal eram realmente ricas, filhas de um pai arrogante (Elísio de Albuquerque) e de uma mãe fútil (Maria Luisa Castelli) em "Antônio Maria". Mas não tão ricas quanto o motorista (Sérgio Cardoso) que dava nome à novela, e que humildemente escondeu o ouro até o último capítulo.
Maria Della Costa entrava pelo atelier de Denner ou Clodovil na já citada novela "Beto Rockefeller", com a mesma desenvoltura que seu marido, (Walter Forster) dava um "duplex" para a amante (Irene Ravache), e a turminha de Malu (Débora Duarte, Rodrigo Santiago, Bete Mendes e Wladimir Nicolaieff) discutiam a possibilidade de "Esticar no New Ton Ton", a boite da moda.
A sociedade caía aos pedaços, mas ainda renderia bom caldo. Rende bom caldo.
No final do programa "Times Square", quatro elegantes personagens vestidos em seus "smokings" decretavam que "samba de branco tem conta no banco, tem Cadillac, mordomo e chofer". Mas isso foi há mais de 30 anos. Do jeito que a coisa anda, aquela "starlet" que prefere determinar que elevador cada pessoa deve usar, vai ter que subir de escada. Se não for despejada.

PS. Bianca del Mar citada nessa coluna na semana passada era o nome artístico de Yoná Magalhães antes da TV, em seu tempo de rádio (Fonte Revista Intervalo)

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