São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 1996
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Desemprego bilionário

CELSO PINTO

Michael Bloomberg, 54, é um caso extraordinário de desempregado bem-sucedido. Ex-corretor de ações e associado do banco de investimentos americano Salomon Brothers, um dos maiores do mundo, foi mandado embora e com sua compensação fundou, em 1981, uma despretenciosa empresa de análise de títulos de renda fixa. Hoje, sua empresa é um gigante multimídia que fatura US$ 850 milhões ao ano e vem crescendo a 30% ao ano nos últimos cinco anos, segundo o próprio Bloomberg, que insiste em manter sua empresa com capital fechado e sem sócios. O toque de gênio de Bloomberg foi unir a agilidade das novas tecnologias de informática a uma enorme gama de informações, com acesso interativo dos clientes, basicamente do mercado financeiro.
A receita levou Bloomberg a ter hoje 62 mil terminais espalhados em 88 países, com escritórios em 65 países. Entre eles, o escritório de São Paulo, oficialmente inaugurado esta semana, e que conseguiu arrastar Bloomberg, pela primeira vez, à América Latina. Existem 400 terminais da Bloomberg no Brasil. Seu império inclui uma TV estilo CNN e uma rádio de informações, que lhe trazem mais prestígio do que lucros. "Se você não cobre crimes, o interesse do público geral cai muito", ensina.
A idéia é que seus repórteres possam ir às entrevistas empunhando uma engenhoca da JVC, do tamanho de um gravador de mão, que grava, fotografa e filma. O resultado tanto pode ir para os terminais, que também oferecem imagens, quanto para a TV ou o rádio. Bloomberg se vê sem competidores no mundo -a Reuters, diz ele, oferece outro tipo de serviço e erra ao tentar imitar seus passos.
Bloomberg tem um serviço mundial de informações econômicas e financeiras de boa qualidade e uma forma muito peculiar de se relacionar com a mídia. Em lugar de vender seus serviços aos jornais e revistas, ele os oferece de graça -desde que a origem da informação seja sempre mencionada. Uma forma de reforçar seu prestígio junto aos verdadeiros clientes, no mercado financeiro.
Isso levou Bloomberg a situações curiosas. Tanto o "Financial Times", o jornal britânico de negócios, quanto a revista "The Economist", talvez a mais influente revista econômica no mundo, tiveram os serviços da Bloomberg por um tempo. Como a "The Economist" não costuma assinar suas matérias e o "FT" ficou muito tempo sem usar ou citar o serviço, Bloomberg mandou tirar as máquinas.
O editor da "The Economist" foi a Nova York tentar comprar os serviços da Bloomberg junto ao próprio Michael e ouviu que não estava à venda por preço algum. Só se o nome da Bloomberg fosse citado na revista. As duas publicações ficaram sem a Bloomberg. Michael Bloomberg quer ampliar seus negócios na América Latina, mas, como nove entre dez investidores internacionais, vê a Ásia como seu mercado emergente favorito. Olha os ex-comunistas com cautela. Na China, de onde acaba de chegar, há bons negócios a fazer, mas nenhuma segurança em relação à propriedade. Na Rússia, existem poucos negócios e nenhuma segurança em rela ção a nada. "Toda a antiga União Soviética, mais o Leste Europeu não somam o tamanho de negócios que existe na cidade de Cleveland (EUA)", compara.
Beneficiário das novas tecnologias e operador em várias mídias, Bloomberg vê com enorme ceticismo o futuro da Internet e as chances de lucrar com ela. Não há nada que a Internet ofereça, a seu ver, que um serviço especializado não possa oferecer melhor. Nem o E-Mail, que o irrita pessoalmente, dada sua dificuldade em escrever sem cometer erros de grafia.
Embora se defina como uma "Cassandra" em relação ao futuro, não vê como seu negócio possa dar errado. Entre todas as áreas onde se meteu, ele aposta mesmo é numa delas: os serviços oferecidos por seus terminais, que o transformaram, em quinze anos, de desempregado em quase bilionário.
O novo piso Quando o Banco Central criou a nova taxa básica de juros, a TBC, muita gente no mercado ficou em dúvida se ela funcionaria, de fato, como um piso para as intervenções do governo. Hoje não há mais dúvidas que ela é entendida pelo BC como um piso. Tanto assim que o mercado já apelidou-a de Taxa Baixa do Chico, uma homenagem a seu criador, Chico Lopes, diretor de Política Monetária do BC.

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