São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 1996
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As dúvidas de John Wayne

MOACYR SCLIAR
"À CÂMARA DE VEREADORES DE SÃO PAULO.

Prezados senhores: tomando conhecimento, pela imprensa, de que há um requerimento no sentido de dar o meu nome a uma rua dessa cidade venho, por meio desta mensagem psicografada, manifestar minha gratidão pela homenagem e ao mesmo tempo formular certas dúvidas que, mesmo a um homem decidido como eu, ocorrem.
A questão básica é: será a rua escolhida a mais apropriada? Será ela compatível com a imagem que, ao longo de muitos anos de cinema, deixei em espectadores?
Especificamente, desejo saber:
1) Há índios nessa rua? Sim, eu sei que ainda existem alguns índios no Brasil, mas vivem eles no logradouro mencionado? Caso sim, manifestam sinais de rebelião? Estão dispostos a atacar as caravanas que por ali passarem, obrigando as carroças a formar um círculo de defesa? Será necessário chamar a cavalaria, que então virá a galope, chefiada por -mim? Haverá possibilidade de combate, com dezenas de selvagens caindo varados pelas minhas certeiras balas?
2) Se não há índios no local: configura-se, ao menos, a situação retratada em "Alamo": grupo de norte-americanos sitiados em forte, sendo atacados por milhares de mexicanos? É possível demonstração de coragem contra o ataque dos cucarachas?
3) Não havendo índios nem mexicanos, pode-se, pelo menos, montar no lugar um cenário semelhante ao da guerra no Vietnã, lembrando como massacrei vietcongs em "The Green Berets"?
Se nenhuma das condições acima ocorrer, serei forçado a declinar da homenagem. Talvez vocês possam dar, à rua, o nome de um dos atores do cinema local, que, ouvi dizer aqui em cima, está em plena recuperação.
Atenciosamente, John Wayne."

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