São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 1996
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Marília Pêra interpreta a genialidade de Maria Callas

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Marília Pêra retoma o gênero musical, desta vez para interpretar a cantora lírica Maria Callas.
O espetáculo, que foi sucesso da Broadway em 1995, é de autoria de Terrence McNally e mostra um pouco do que foram as aulas que Callas ministrou na Juilliard School de Nova York, entre 1971 e 1972, para alunos que passavam por uma seleção rigorosa.
A paixão de Pêra por Callas vem de longa data. Há cerca de 15 anos, a atriz reúne tudo o que pode da cantora, de CDs a vídeos e fotos.
A seguir, trechos da entrevista.
*
Folha - Desde quando você se interessa por Maria Callas?
Marília Pêra - Comecei a ficar louca por ela já faz uns 15 anos. Folha - Você pesquisou para descobrir detalhes da vida de Callas?
Pêra - Estou fazendo isso de novo, porque tenho há muito tempo todos os discos dela, todos os livros, todas as fotos possíveis, todos os vídeos, CDs. Estou revendo tudo isso e relendo as biografias.
Folha - Ela era perfeccionista?
Pêra - Era, porque era um gênio. Sabia fazer tudo muito bem. Ela começou a cantar aos 14 anos e teve uma vida muito pobre. Então ela não tinha muita paciência com gente que não trabalhasse direito. Callas cantou todo o repertório de ópera e estrupiou a garganta porque ela não respeitou a tessitura dela. Cantava em todos os registros. Não sei o que ela queria provar, ela queria fazer tudo, era um gênio. Mas isso foi estragando aos poucos a voz dela.
Folha - Isso foi no final da carreira dela?
Pêra - Ela morreu cedo, aos 53 anos. Tenho a impressão que o maior problema dela foi o abandono da grande paixão da sua vida, que foi o milionário grego Onassis. Isso destruiu não a voz, mas o ego dela, que, para uma diva, é a morte.
Folha - "Master Class" é um musical?
Pêra - É um musical desde o momento em que você pense que a voz da Callas aparece cantando, os quatro cantores líricos mostram árias em cena e há um pianista que toca o tempo todo. Nesse sentido é um musical, mas não tipo Broadway, é um musical lírico.
Folha - O espetáculo mostra como foram as "master classes" verdadeiras?
Pêra - Algumas palavras que eu digo em cena o autor tirou mesmo das "master classes". Mas ele fantasiou muito também.
Folha - Como o humor aparece?
Pêra - Essas professoras de canto em geral são extremamente duras. Esse rigor às vezes leva ao humor. Elas são tão perfeccionistas que acabam ficando engraçadas. É o humor que vem ao acaso.
Folha - Qual será sua próxima empreitada?
Pêra - Entrei em uma idade em que há personagens extraordinários para interpretar. Quero brincar de ser outras pessoas grandiosas. É bom fingir que é um gênio.

Peça: Master Class
Autor: Terrence McNally
Tradução: Millôr Fernandes
Direção: Jorge Takla
Elenco: Marília Pêra, Caio Ferraz, Isabel Batista, Frederico Vieira, entre outros
Quando: estréia hoje, às 21h; de qui a sáb, às 21h, dom, às 18h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 011/258-3616)
Ingresso: R$ 30,00

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