São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 1996
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O mundo ideal

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Números eloquentes serão divulgados hoje em Brasília.
Um brasiliense come, em média, 3,3 quilos de arroz por mês. E mais: 1 quilo de feijão, 2 quilos de carne bovina, 900 gramas de carne de frango, 1,9 quilo de açúcar cristal, meio quilo de tomate, 737 gramas de batata, 26 pãezinhos do tipo francês e quase 1 litro de óleo de soja. A lista completa de alimentos pesquisados tem 339 itens.
O brasiliense gasta apenas 20,52% da renda familiar mensal, em média, com alimentação.
Esses dados fazem parte de uma pesquisa realizada pela Codeplan (Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central), uma empresa estatal do Distrito Federal.
Não há pesquisa igual para o restante do Brasil. É impossível, portanto, fazer comparações. Mas é correto inferir que Brasília vai muito bem.
É do instinto humano se preocupar primeiro com a sobrevivência. E depois com outras coisas. É o que o brasiliense faz. Consegue torrar parte de sua renda com itens com os quais um brasileiro comum nem sonha.
Por exemplo, os habitantes da capital federal gastam, em média, 4,61% da renda familiar mensal com "leitura e recreação". Ainda sobram 7,57% da renda mensal para gastar com "aquisição de imóveis".
E como se consegue todo esse milagre para 1,868 milhão de brasilienses? É fácil. Trabalhando para o Brasil. Isto é, sendo funcionário público.
É bom frisar que nem todos os funcionários públicos ganham bem. Muito pelo contrário. É uma minoria que puxa os indicadores para cima.
A renda familiar de Brasília dispara por causa das suas três áreas nobres, as regiões administrativas conhecidas como Plano Piloto, Lago Norte e Lago Sul. Aí, nessas localidades, 59,81% trabalham para o Estado.
É uma pena que esse mundo ideal chamado Brasília seja puro artificialismo estatal.
Pior ainda é saber que será nesse ambiente que os parlamentares vão decidir se acabam ou não com a estabilidade dos servidores públicos.

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