São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 1996
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Jobim e Lamarca

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Não sei o mal que fiz ao Janio de Freitas e ao Clóvis Rossi para que eles tramem contra a minha estabilidade no emprego.
Sempre que descubro um bom assunto e resolvo amadurecê-lo, eles saem na frente, tiram-me o pão da boca e o leite das crianças, evidente que com melhores argumentos e superior estilo.
Anteontem, o Clóvis escreveu sobre o que eu pretendia escrever hoje. De duas uma: ou me resignava a perder olimpicamente, que o tempo é de Olimpíadas, onde o importante não é vencer etc. etc, ou ia em frente com a cara que Deus me deu -a cara cínica que me reprovam.
Indo ao assunto: elogiar a atitude serena, e até mesmo corajosa, do ministro da Justiça, Nelson Jobim, no caso da revisão da morte de Lamarca. Ele colocou a questão em seus devidos termos: não se trata de julgar um desertor, um assassino, um isso ou aquilo.
A questão é saber se, com as revelações que vieram à tona, Lamarca foi morto enquanto prisioneiro do Estado, assassinado por representantes do Estado. Ou na alternativa que prevaleceu oficialmente: foi abatido em combate, naquilo que os escritores quinhentistas chamavam de "lide d'armas leal e justa".
Pelo que se depreende, uma parte mais conservadora do Exército deseja engrossar, não admitindo a investigação do caso, na base do bandido é bandido e nada merece, nem mesmo justiça.
Mas tanto o ministro do Exército como o chefe da Casa Militar da Presidência da República acataram as razões de Nelson Jobim, o que parece garantir o bom senso do governo no episódio.
Caberia aqui um desdobramento sobre o terrorismo em geral. Durante a 2ª Guerra Mundial, os membros da Resistência na França e na Itália eram considerados terroristas, desobedeciam ao estado legal da época, eram torturados e fuzilados sumariamente. Bem, o assunto é vasto e fica para outra ocasião.

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