São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sesi usa verba para comprar carros de luxo

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Sesi (Serviço Social da Indústria) de Santa Catarina utilizou, no ano passado, R$ 106 mil de forma irregular, comprando carros de luxo com recursos que deveriam ser gastos com serviços para os trabalhadores.
Essa é a conclusão de um relatório do TCU (Tribunal de Contas da União) obtido pela Folha.
O documento, concluído no mês passado pelo ministro Lincoln Magalhães da Rocha, também critica o fato de a compra ter sido feita sem concorrência.
"A aquisição de veículos 'top de linha' caracteriza o mau emprego dos recursos públicos, constituindo atos ilegítimos que não visam ao interesse coletivo e sim ao interesse particular, fugindo à finalidade geral do Sesi", diz o relatório.
Os três veículos comprados estão entre os nacionais mais caros disponíveis no mercado: Ford Versailles, Tempra 16V e Omega CD.
Esses carros são utilizados para "atender exclusivamente" diretores do Sesi e da Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina).
O tribunal classificou a operação de "ilegal" e proibiu o Sesi de Santa Catarina de comprar outros veículos de luxo para serem utilizados por diretores da entidade.
O TCU também determinou que os carros já comprados sejam identificados com o logotipo do Sesi e a inscrição "uso exclusivo em serviço".
Osvaldo Moreira Douat, diretor regional do Sesi, defendeu a compra dos veículos de luxo. "Estou prestando trabalho gratuito para a entidade e o faço com muita satisfação, mas me sinto no direito de me cercar de um mínimo de conforto e segurança", disse.
O diretor afirmou que vai cumprir a determinação do TCU (leia texto nesta página).
Regulamento interno
Ao criticar a compra dos carros de luxo, o ministro cita o artigo 4º do regulamento interno do Sesi.
O artigo define como finalidade da entidade "auxiliar o trabalhador da indústria a resolver os problemas básicos da existência (saúde, alimentação, habitação, instrução, trabalho, economia, recreação, convivência social e consciência sócio-política)".
O Sesi foi criado há 50 anos. Para se manter, a entidade recebe das empresas do setor 1,5% do valor da folha salarial, recurso considerado público.
Contestando a destinação do dinheiro, o ministro do TCU cita três alternativas que seriam mais adequadas às finalidades do Sesi.
"Essa quantia seria suficiente para adquirir quatro ambulâncias importadas ou cerca de dez veículos utilitários para transporte de crianças carentes das escolas do próprio Sesi", afirma o ministro.
Diz ainda que o dinheiro daria para "instalar cerca de dez consultórios odontológicos, aumentando o número de atendimentos em aproximadamente 10 mil pessoas por ano".

Texto Anterior: Perdão não inclui juros
Próximo Texto: Para diretor, uso é legítimo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.